Lusa | José Sena Goulão

Legislativas’24: A campanha que ficou por fazer na emigração torna os resultados mais “evidentes”


Em França estavam recenseados para esta eleição mais de 381 mil eleitores. Isto quer dizer que é na França que se ganham (ou perdem) eleições. Mas esta foi uma campanha com relativa falta de mobilização partidária.

Com a exceção dos dois principais partidos – o Partido Socialista e a Aliança Democrática – e de uma campanha mais discreta do Chega, praticamente mais nenhuma formação política fez campanha em França. Apenas chegando à redação do LusoJornal, uma ação do Volt e uma outra do Bloco de Esquerda na região parisiense.

Não foram pois os Partidos Políticos que motivaram os Portugueses a votar nestas eleições, no círculo da Europa.

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Maior parte dos candidatos “paraquedistas”

Apesar do forte eleitorado em França, a maior parte dos candidatos não moram neste país. Apenas a AD (Carlos Gonçalves) e o Chega (José Dias Fernandes) apresentaram candidatos cabeças de lista de França.

O PS (Nathalie de Oliveira) e a CDU (Nuno Gomes Garcia) apresentaram um candidato de França em segunda posição.

Nenhum outro candidato de França se apresentou a esta eleição por este círculo eleitoral, o que não deixa de ser estranho.

Depois, alguns partidos apresentaram candidatos residentes em outros países da Europa, como foi o caso, por exemplo, do Bloco de Esquerda (Rita Nóbrega mora na Bélgica), do Juntos Pelo Povo (Élvio Sousa mora no Reino Unido), do Livre (Tiago Correia mora no Reino Unido), da CDU (Joana de Abreu Carvalho mora no Reino Unido) e do Volt (Cármen Sonnberger mora na Áustria).

A maior parte dos 17 partidos que concorreram ao círculo eleitoral da Europa, apresentaram candidatos que moram em Portugal. É o caso do ADN (David Pereira), do Ergue-te (Patrícia Manguinhas), do Iniciativa Liberal (João Cotrim de Figueiredo), do MPT.A (Isabela Gomes), do Nós Cidadãos (Patrício Teixeira Leite), da Nova Direita (Pedro Godinho), do PAN (Paulo Vieira de Castro), do PCTP/MRPP (José de Sousa) e do RIR (Orlando Correia).

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Campanha virtual

Nenhum destes últimos partidos se deslocou em campanha eleitoral a França. Ainda se pensava que João Cotrim de Figueiredo, antigo líder da Iniciativa Liberal e próximo cabeça de lista do partido nas eleições para o Parlamento Europeu, viesse em campanha eleitoral a França para começar a preparar caminho para as eleições Europeias. Mas nem se dignou responder à solicitação do LusoJornal para uma entrevista!

Fazer campanha a partir de Portugal não deixa de ser curioso. A maior parte destes partidos recorreu às redes sociais para contactar com eleitores residentes no estrangeiro, mas muitos opõem-se ao voto eletrónico. Mesmo quando eles próprios percebem o quão difícil é contactar com um eleitorado tão pulverizado, não cedem, para alguns deles, ao recurso às novas tecnologias de voto.

O único líder de um Partido a deslocar-se a França durante em campanha eleitoral foi André Ventura do Chega.

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Candidatos pouco preparados

Mas também é verdade que muitos dos candidatos não estavam minimamente preparados para estas eleições. Basta ver as entrevistas que deram ao LusoJornal. Todos queriam falar da situação política de Portugal, utilizando os chavões próprios a cada partido, mas uma grande parte não conhecia o suficiente para defender os interesses dos Portugueses residentes no estrangeiro.

Esta falta de preparação é claramente o sinal de que a maior parte dos partidos políticos não têm núcleos (nem militantes no estrangeiro). E para os que têm, é difícil apostarem neles para serem candidatos às eleições. Há uma tremenda falta de confiança dos partidos nos seus militantes no estrangeiro.

A falta de núcleos dos partidos no estrangeiro, traduz-se depois numa clara falta de informação sobre os principais assuntos relacionados com os Portugueses residentes no estrangeiro.

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PS e AD disputaram a eleição na Europa

Paulo Pisco e Carlos Gonçalves conhecem o funcionamento das eleições, têm experiência de campanhas eleitorais, sabem como se vai buscar votos, como se convencem os eleitores. Claro que é um trabalho de muitos anos, uma resistência incrível, mesmo quando não foram eleitos, como foi o caso de Carlos Gonçalves durante a última legislatura.

Durante estas últimas semanas percorreram muitos países na Europa e sobretudo em França, visitando muitas cidades, procurando os programas de rádio às quais davam entrevistas, visitando associações, participando em eventos, tirando fotografias com líderes da Comunidade…

Na realidade, apenas foi visível a campanha destes dois partidos em França, apoiando-se numa rede de Secções e de militantes em todo o país.

Apesar de se esperar uma campanha tão intensa como a que fez em Portugal, o Chega fez uma campanha “discreta” nas Comunidades, mesmo se também esteve ativo durante as últimas semanas.

Nota-se, a olho nu, uma adesão clara de muitos emigrantes ao discurso do Chega. Vamos ver nestas eleições, se são efetivamente eleitores ou se são apenas “treinadores de bancada” que falam muito nos cafés, mas depois não concretizam o voto.

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Resultados podem voltar a ser “evidentes”

Neste momento estão a chegar os votos a Portugal e a contagem vai decorrer nas próximas semanas.

Por enquanto, não há Deputados eleitos. Mas não seria de admirar se Paulo Pisco e Carlos Gonçalves voltassem a ser os Deputados eleitos pelo círculo eleitoral da Europa.

Se houver surpresas, seriam certamente do Chega, não sendo evidente que algum dos dois partidos consiga voltar a eleger dois Deputados por este círculo eleitoral.

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Emigração foi transparente na campanha em Portugal

Não deixa de ser estranho que a Emigração só apareceu nestas eleições no próprio dia das eleições, aliás na noite eleitoral, aliás… já no fim da noite eleitoral, quando o ainda Primeiro-Ministro chegou e disse que “isto ainda não vai ser decidido hoje, porque ainda faltam os votos dos emigrantes”. Só a partir dessa altura, os comentadores e os jornalistas portugueses passaram a falar no “voto dos emigrantes”.

Durante toda a campanha eleitoral, falou-se, certo, dos “jovens que estão a deixar o país”, mas não se falou dos emigrantes, das suas principais preocupações, das soluções que cada partido apresenta (uma grande parte nem apresenta soluções).

Todos falaram no “regresso dos jovens” esquecendo-se que a maior parte dos mais de 5 milhões (!?) de Portugueses que residem no estrangeiro, não pretendem regressar a Portugal.

Pretendem apenas continuar a ser Portugueses.