Lusa | Paulo Cunha

Legislativas’24: Ventura diz que emigrantes em França não receberam voto e deixa suspeitas no ar


No sábado passado, na Figueira da Foz, o Presidente do Chega, André Ventura, alegou estar em curso uma tentativa para “desvirtuar o resultado” das eleições, que passa por “anular os votos” do seu partido.

“Está em curso uma tentativa de desvirtuar o resultado destas eleições em Portugal e nós temos de estar muito atentos a isso”, afirmou o dirigente, que disse ter relatos por parte de Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo de que existem boletins de voto que “não chegaram” ou “parece que só chegam a alguns e não chegam aos outros”.

“Pelos Consulados, dominados pelo PS e PSD pelo mundo fora, ouvimos chegar notícias de tentativas verdadeiras de boicote ao voto”, disse, falando também em “vídeos que circulam permanentemente de pessoas a dizer que vão anular os votos do Chega e que vão condicionar os votos do Chega”, sem concretizar.

Os círculos eleitorais dos emigrantes (Europa e Fora da Europa) representam apenas quatro eleitos (dois mais dois) num universo de 230 parlamentares e são normalmente obtidos pelos dois partidos mais votados, por distribuição pelo método de Hondt.

Perante as suspeitas que levantou, o líder do Chega considerou que se trata de “um problema particularmente importante” e pediu aos apoiantes que estejam “muito atentos a estas eleições”.

“Temos de ter olho aberto, não nos podem enganar nestas eleições”, salientou, justificando que isto acontece “agora que sabem que estes emigrantes, fartos de socialismo e social-democracia, querem uma mudança”.

“Estamos debaixo de ataque”, afirmou, replicando uma tática de atacar o processo eleitoral, utilizada por outros líderes políticos populistas, como Trump ou Bolsonaro, já muito elogiados por Ventura.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) não tem registo de qualquer queixa sobre qualquer tentativa de “desvirtuar o resultado” das legislativas de dia 10. Contactado pela Lusa, o porta-voz da CNE, Fernando Anastácio, escusou-se a comentar as denúncias feitas pelo presidente do Chega, André Ventura, mas esclareceu que não existe qualquer investigação ou inquérito sobre essa matéria. “Não tenho nota de qualquer queixa entregue” e “esse assunto não foi apreciado” pela CNE, afirmou aquele responsável.

Mas este domingo, André Ventura reiterou as suspeitas sobre a possibilidade de anulação propositada de votos no partido nas legislativas e defendeu que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deve investigar.

“Eu espero que hoje à noite a CNE, em vez de andar a dizer que não recebe nada, que não viu nada, que não sabe de nada, olhe para isto e diga que tem de abrir um procedimento sobre a viabilidade das pessoas que estão nas mesas e sobre o processo eleitoral nas Comunidades emigrantes”, afirmou André Ventura à chegada a um jantar/comício em Leiria.

André Ventura defendeu primeiro que “não cabe ao Chega” formalizar essa denúncia, mas depois admitiu fazê-lo: “Se precisarem que a gente a meta por escrito e envie coisas como esta, a gente envia”.

Afirmando que a “CNE vê televisão e ouviu o líder do terceiro maior partido dizer que há denúncias”, André Ventura defendeu que a CNE “tem competência pública para assegurar o controlo e a operacionalidade do ato eleitoral, e isto põe em causa o controlo do ato eleitoral”.

“A CNE tem aqui mais do que motivo para abrir uma investigação”, salientou.

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André Ventura baralhado com as eleições nas Comunidades

André Ventura disse ter recebido “emails de pessoas que não conseguem votar, que não recebem indicações para votar”, e deu como exemplo o Consulado Geral de Portugal em Joanesburgo, que transmitiu através da rede social Facebook, que “quem quisesse votar tinha de se inscrever até dia 10 de janeiro”.

Nessa publicação de 06 de dezembro, consultada pela Lusa, a Cônsul-geral, Graça Araújo Fonseca, informa “todos os cidadãos nacionais portugueses e luso-descendentes recenseados no estrangeiro, que se pretenderem exercer o seu direito de voto presencialmente, devem manifestar essa intenção junto da comissão recenseadora da sua área de residência, no Consulado Geral de Portugal em Joanesburgo, antes de dia 10 de janeiro de 2024”.

É referido também que os eleitores que não votem presencialmente poderão fazê-lo por via postal.

De acordo com um comunicado da Comissão Nacional de Eleições (CNE), dia 10 de janeiro foi o dia estipulado para os recenseados no estrangeiro que quisessem votar presencialmente manifestarem essa intenção, caso não o tivessem feito já em eleição anterior para a Assembleia da República. A CNE reforçou também que quem não optasse pelo voto presencial iria receber a “documentação para exercer o seu direito de voto via postal”.

André Ventura disse querer ganhar as eleições e defendeu que “em democracia tem que se lutar com armas justas”, considerando que “esta campanha deixou de ser uma luta entre partidos, passou a ser luta de todos contra o Chega”.

Questionado sobre a possibilidade de a falha ser dos serviços postais dos países onde residem os emigrantes, André Ventura disse que não crê que esse “seja o caso em França, na Suíça e em Inglaterra”, onde “os correios têm três vezes mais operacionalidade que o nosso, e por milagre não chegaram lá também boletins de voto”.