“Les vivants et les autres”, de José Eduardo Agualusa – E se um grupo de escritores ficasse isolado numa ilha?

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]

“Os vivos e os outros”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa (Huambo, 1960), editado pela Metaillié e traduzido por Danielle Schramm, chegou na passada semana às livrarias francesas. É o nono romance do autor a ser publicado no Hexágono.

A viver em Moçambique, Agualusa coloca este país lusófono da Africa Oriental pela primeira vez no centro da sua obra graças ao jornalista e escritor angolano Daniel Benchimol, uma das suas personagens mais marcantes e que já apareceu em outras obras, tais como a “Teoria Geral do Esquecimento” ou “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários”, e que será uma espécie de alter-ego do escritor.

Explorando ao máximo a prosa lírica, “Os vivos e os outros”, que venceu o Prémio PEN 2021, utiliza como cenária a belíssima Ilha de Moçambique, banhada pelo Índico e centro do colonialismo português na região, onde decorre um festival literário (escritores a escrever sobre escritores é uma tendência habitual da literatura) que reúne três dezenas de autores africanos que, devido a uma violenta tempestade no continente, se veem isolados ao longo de sete dias. Não há aviões, a ponte que liga a ilha ao continente está impraticável e até a internet, a rádio, a televisão e os telefones cessaram de funcionar.

Daniel Benchimol e a sua esposa Moira, grávida, que já vivem na ilha há três anos, são obrigados a partilhar a vida com outros escritores africanos cativos do temporal e da bruma que envelopou a ilha, enquanto uma série de bizarros e misteriosos acontecimentos, que pairam entre a realidade e a ficção, inquieta não só os escritores, mas também a população insular. Todos os escritores no romance são inventados, embora por momentos, graças ao detalhe e à vivacidade que o autor lhes incute, pareçam bem reais.

Naquele meio fechado, o leitor encontrará um misto de escritores – Uli Lima, Ofélia Easterman, Luzia Valente, Cornelia Olukum et Jude d’Souza – uns conceituados, não só em África, mas também na Europa, e outros a começar uma carreira. Uns mais motivados e cheios de energia e outros cansados e sem ideias. São vários os diálogos entre eles onde se queixam, por entre outras coisas, dos editores europeus que, prisioneiros de estereótipos, procuram nas literaturas africanas apenas um exotismo algo anacrónico e não as sinergias contemporâneas de um continente moderno e em ebulição.

O isolamento é tal que alguns dos escritores começam a conjeturar se o mundo não terá acabado e se eles, na verdade, não estarão já mortos… essas dúvidas acentuam-se quando começam a aparecer na ilha algumas das personagens criadas por si.

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]