Este fim de semana foi inaugurada uma placa na Gare de Hendaye, na fronteira entre a França e Portugal, em homenagem aos Portugueses e Espanhóis, emigrantes ou exilados políticos, durante os séculos XX e XXI.
A iniciativa foi de um coletivo de várias associações portuguesas e espanholas, assim como de outras instituições, nas quais se inclui o LusoJornal, mas cuja coordenação foi de Manuel Dias, cofundador do Comité francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes.
O LusoJornal aproveitou para interrogar Manuel Dias.
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Porque é importante fazer esta homenagem aqui em Hendaye?
É importante porque vivemos um período de mudança de valores e ao mesmo tempo uma parte importante das pessoas que viveram esta época, nos anos 60, estão a desaparecer. Eu acho que tem de se preservar a memória com as pessoas presentes. E ao mesmo tempo é uma oportunidade de transmitir às novas gerações e à população local, porque hoje, nesta fronteira continuam a viver-se dramas de pessoas que tentam todos os dias atravessar a fronteira. Eu acho que é importante recordar o que se passou aqui nos anos 30 e 60, porque já nos anos 30 houve centenas e milhares de Portugueses e Espanhóis que atravessaram a fronteira; depois, nos anos 1958-60, houve uma imigração de massa espanhola e portuguesa para a França.
E isso não está devidamente lembrado?
Eu acho que até aqui, nada tinha sido feito em Hendaye, de maneira simbólica, à volta disso. Eu acho que é uma maneira de marcar nas paredes, nas ruas, no espaço público, o que foi essa herança e o que foi essa contribuição dos Portugueses e dos Espanhóis durante a I Guerra mundial – vocês sabem bem porque este trabalho foi feito pelo LusoJornal – mas também na construção da França entre 1922 e 1930, na Resistência e, depois, na reconstrução da França, de 1958 até os anos 80. Eu acho que estas páginas da história, essas contribuições, foram em parte relativizadas e as pessoas que viveram isso, não tiveram força, nem energia para testemunhar. Pertence-nos a nós gravar e escrever esta história para os nossos filhos e para os nossos netos, mas também para permitir que em Portugal eles não se esqueçam do que foi este drama da nossa Comunidade e da nossa Nação.
Era importante associar os Espanhóis nesta homenagem?
Era importante porque esta não é apenas uma história de Portugueses. Aqui recordámos os Portugueses, os Espanhóis, os Africanos, sobretudo da África do norte, porque o Sud-Expresso, a Nacional 10, não é só a estrada, não é só o comboio da imigração Ibérica, também é o comboio ou a estrada da imigração de uma grande parte dos marroquinos – há uma grande Comunidade marroquina em França e a maior parte dos Marroquinos passam por aqui também. Nós não devemos esquecer, para além da componente Ibérica, a da África do norte, a da África negra também. Além da placa, desta cerimónia, elaborámos um documento pedagógico que a partir de setembro será divulgado nos liceus e nos colégios, para que os professores de história se possam apropriar disso e para que a presença, o contributo, o papel dos Portugueses e dos Espanhóis na história da França, possa ser, uma vez para sempre, reconhecida e assumida.