LusoJornal | António Borga

Maria Beatriz Rocha Trindade diz que os políticos “deviam agradecer e exaltar a contribuição desinteressada” dos emigrantes

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Ao receber a Medalha Grand-Vermeil da Cidade de Paris, a socióloga Maria Beatriz Rocha Trindade estava emocionada e não se cansou de agradecer o grupo de amigos que lhe organizaram a homenagem nos salões do Hôtel de Ville da capital francesa.

Nessa altura, a homenageada respondeu às perguntas do LusoJornal.

Como se sente com esta homenagem?

Foi uma homenagem que constituiu algo de que eu não estava à espera, foi totalmente inesperado, e tem de concordar que há um reconhecimento e uma emoção. Como toda a gente sabe, eu não fiz na vida outra coisa que amar o meu marido e amar a minha profissão. E justamente, dentro do exercício da minha profissão, houve uma parte política – não partidária, mas política – pela defesa dos direitos, para realçar alguns pontos que eu considerava importantes e eram menos abordados.

De que pontos está a falar?

Muitas vezes o estudo das migrações resume-se à situação geográfica, à apresentação quantitativa de números e eu julgo que são indicadores necessários, mas acho que muito mais importante é a parte humana, a organização social, a interação entre o espaço de origem e o espaço de implantação. Eu, de certa forma, retomei o que fez William Isaac Thomas e Florian Znaniecki, que eram dois autores da escola de Chicago, e que trabalharam sobre a imigração polaca para os Estados Unidos.

A sua vida profissional e familiar estão indissociavelmente ligados à França…

Quando casei com o meu marido, eramos muito novos, tínhamos 18 e 19 anos, e ele ganhou uma bolsa para um doutoramento de terceiro ciclo em Física do Plasma, na Universidade de Orsay. Foi por isso que nos fixámos perto de Orsay, com três crianças. Foi aqui que encontrei uma Comunidade portuguesa.

De que Comunidade se tratava?

Descobri uma comunidade originária de Queiriga, Vila Nova de Paiva, Viseu, que depois da I Grande Guerra se tinha fixado, em resposta a um “appel d’offre” do Governo francês, na região de Limours e Orsay. Quando fiz a inscrição no doutoramento com este tema, causou na altura uma grande impressão, porque não se estudava a imigração nos anos 60, com a regularidade e a frequência com que hoje se faz.

E foi assim que começou a estudar esta Comunidade?

Eu fiz um estágio no Centro de estudos sociológicos, rue Cardinet, em Paris, que já não existe. Inscrevi-me em “psicologia social” e um dia, o Diretor desse Centro, que era também meu professor na Universidade de Paris 5 – René Descartes, disse que queria falar comigo e propôs-me inscrever-me num doutoramento de Estado. Nessa altura poucas pessoas se interessavam pela imigração e a partir daí toda a minha vida foi dedicada, não apenas à investigação, mas também ao ensino.

O que a fascinou nessa Comunidade de Queiriga?

Eu comecei a apaixonar-me por todas as histórias de vida, por todos os benefícios – os grandes benefícios – a forma como os Portugueses, residindo fora, continuam ligados ao seu país, ligados à sua terra, como ajudam instituições e pessoas. Isto não é de hoje, isto vem da grande emigração para o Brasil. Eu acho que os próprios políticos do nosso país deviam prestar mais atenção, agradecer, exaltar essa contribuição completamente desinteressada e gratuita, que não tem outro fim, senão o de ajudar pessoas da mesma ascendência e um terreno que, apesar de não ser vivido, é um terreno de origem, que continua a pertencer-lhes.

Tem sido uma impulsionadora de um espaço museológico sobre emigração em Portugal. Mas ainda se espera por um Museu nacional, não é?

Eu, com toda a modéstia, devo ser das pessoas em Portugal, senão a que mais, uma das que mais conhece os museus das migrações em todo o mundo, na Europa, nos Estados Unidos, na Argentina,… porque acho que o museu, não é um museu que apresente peças bonitas, é um museu pedagógico, que ensina a história do país e que ensina a melhor conhecer e a amar quem saiu. É sempre a minha frase: sem se conhecer, não se pode gostar.

E como se pode dar mais a conhecer este tema?

Eu acho que devia haver um grande esforço para ensinar a todos os níveis de ensino, desde o secundário, o universitário, o que foi a emigração, o quanto é importante a mobilidade dos que partem e dos que chegam a Portugal. Nós pensamos unicamente nos que partiram e agora é que temos verdadeiramente consciência de algo que sempre existiu em Portugal que é a chegada de muita gente que contribuiu também para o seu desenvolvimento.

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