Mariana Mortágua quer dar «voz e megafone» aos grevistas da CGD/França

A Deputada do Bloco de Esquerda (BE) Mariana Mortágua manifestou hoje, em Paris, o seu apoio aos grevistas da sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e disponibilizou-se para «dar voz e megafone» à sua luta.

Perante uma centena de trabalhadores, em greve há 23 dias, a Deputada defendeu que o banco «não pode deixar à mercê quase 600 trabalhadores nem uma imensa Comunidade de emigrantes portugueses que vive em França» e disse que «a Caixa precisa de uma sucursal em França», a qual «contribui para os lucros» do banco.

«Estamos completamente disponíveis, dentro daquilo que são todos os instrumentos legais, regimentais, parlamentares, burocráticos, políticos, mediáticos, todos os instrumentos ao nosso dispor, estamos disponíveis para trabalhar convosco e para vos ajudar e para dar voz e megafone à vossa luta», sublinhou, mediante aplausos.

Mariana Mortágua afirmou que a CGD deve ser o banco que «respeita os seus trabalhadores», considerando «ilegal» que estes não possam aceder ao plano de reestruturação do banco. «Negar-vos o acesso a saber o vosso futuro e a negociar e a poder lutar pelo melhor futuro, não só não respeita a lei como é um desrespeito pelos vossos direitos e pela vossa dignidade. Nós estamos aqui para apoiar a vossa luta, pela vossa dignidade e pelos vossos direitos. Têm direito a ter acesso a este plano de reestruturação», afirmou.

A Deputada, que integra a Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República, disse, ainda, que «aquilo que é melhor para a CDG é manter esta Sucursal aberta, em funcionamento com os seus trabalhadores a continuar a contribuir para os resultados da Caixa, como têm feito no passado».

Mariana Mortágua acrescentou que «tal como os trabalhadores não têm acesso ao plano de reestruturação, o Parlamento também não teve acesso ao plano de reestruturação», mas apenas «a alguns ‘powerpoints’ com ideias genéricas» nos quais «vinham objetivos de redução de trabalhadores e de redução da presença externa da Caixa no mundo».

«Estas são as imposições da Comissão Europeia e nós sabemos que a Comissão Europeia tem um cadastro de destruir bancos em Portugal e de enviar a conta para os contribuintes pagarem. Portanto, nós sabemos que a Comissão Europeia o que faz, faz por radicalismo ideológico e porque quer e defende ideologicamente a privatização da Caixa e não o faz para defender a CGD», continuou.

A Deputada lembrou ainda que o Presidente do Conselho de Administração da CGD foi ouvido na Assembleia da República e que foi questionado diretamente sobre a sucursal francesa e que ele respondeu que «estão a tentar negociar com Bruxelas a alteração deste ponto de reestruturação».

Questionada pela Lusa sobre o tipo de ajuda que pretende dar aos grevistas, Mariana Mortágua disse que «é óbvio – e tem de ser apoiado – todas as intenções que estes trabalhadores têm de chegar aos órgãos de soberania em Portugal, tanto ao Governo quanto à Assembleia da República».

«Disponibilizamo-nos, obviamente, para fazer tudo aquilo que estiver ao nosso alcance, dentro dos mecanismos parlamentares que temos, para poder facilitar o encontro destas pessoas ou a comunicação entre estas pessoas e o Governo», declarou.

No hall externo da sede do banco em Paris, momentos antes de ser colocada a música «Grândola Vila Morena», Mariana Mortágua deu «os parabéns aos trabalhadores por esta greve que é tão longa já e que está a ser feita com sacrifício pessoal».

Perante os grevistas e antes do discurso da Deputada, a porta-voz da Intersindical FO-CFTC, Cristina Semblano, afirmou que «23 dias de greve é muito» e que «há que aguentar e resistir» até que sejam abertas negociações.

Cristina Semblano recordou que na quinta e sexta-feira os trabalhadores em greve foram proibidos de aceder à sede do banco e que «hoje foram abertos os portões para receber a Deputada e para darem uma boa imagem», temendo que esta quinta-feira os grevistas «voltem a ser proibidos de entrarem na empresa onde trabalham».

Numa nota escrita enviada à Lusa, a CGD afirmou, na sexta-feira, ter proibido a realização de Assembleias-gerais dos trabalhadores nas instalações do banco que estão em greve na sucursal de França, mas garantiu que «o direito à manifestação está a ser respeitado».

Em 12 de abril foi votada uma «greve ilimitada», um movimento apoiado pelos sindicatos Force Ouvrière e CFTC, que querem respostas sobre o futuro da CGD em França, onde há 48 agências e mais de 500 trabalhadores.

A Intersindical teme a alienação da Sucursal francesa, quer ter acesso ao plano de reestruturação do banco e denuncia «atrasos nos aumentos salariais por mérito e carreiras desde 2016», assim como «disfuncionamentos da sucursal com impactos na saúde física e mental dos trabalhadores».

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