Migrações: Portugal saúda França e garante acolher “alguns migrantes” do ‘Ocean Viking’

Comunidade

 

Portugal garantiu ontem que irá acolher “alguns migrantes” do navio humanitário ‘Ocean Viking’, que atracou em Toulon, sul de França, após três semanas à procura de um porto seguro em Itália, e saudou Paris pelo papel desempenhado no processo.

“Portugal fará a sua parte, recebendo alguns dos migrantes do navio #OceanViking, em coerência com os nossos valores nacionais e europeus. Saudamos o importante papel desempenhado pela França neste processo”, escreveu o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, na rede social Twitter.

Na mensagem, João Gomes Cravinho não fez qualquer referência à recusa italiana em autorizar o desembarque.

Segundo as autoridades marítimas francesas, após uma decisão tomada a “título excecional”, os 234 migrantes resgatados no Mediterrâneo ao largo da costa da Líbia começaram a desembarcar hoje de manhã em Toulon, com Paris a lançar duras críticas a Roma por nunca ter permitido ao ‘Ocean Viking’ aportar em Itália.

Das críticas às sanções, Paris, através do Ministro do Interior, Gérald Darmanin, reforçou quinta-feira a segurança na fronteira com Itália em cerca de uma dezena de postos fronteiriços, aumentando o controlo em “estações de serviço, eixos secundários e autoestradas, sobretudo a A8, saídas de estradas e pontos de portagens”, tal como indicou hoje a Direção-Geral da Polícia Nacional (DGPN) francesa.

Cerca de 500 polícias e gendarmes (polícia militarizada) foram mobilizados para os postos de controlo em “pontos de passagem autorizados” para garantir “segurança H24”, disse a mesma fonte.

Apesar da maior parte das rotas de entrada de migrantes para França ficarem situadas nos Alpes Marítimos, o reforço “estende-se a vários pontos nas outras zonas de montanha”.

A decisão de Paris já suscitou uma reação da nova Primeira-Ministra italiana, Giorgia Meloni, que criticou ontem a “resposta agressiva” de França, que exige que a União Europeia (UE) também imponha sanções a Roma.

“Quando se fala em retaliação no âmbito da UE, há alguma coisa que não está a funcionar. Fiquei impressionada com a reação agressiva, incompreensível e injustificável do Governo francês”, afirmou Meloni, numa conferência de imprensa, em que alegou que a Itália não pode ser o único destino para os migrantes procedentes de África. “Não é inteligente discutir com França, Espanha, Grécia, Malta ou com outros países. Quero procurar uma solução comum”, assegurou Meloni, para quem é necessário encontrar “uma solução europeia” para a questão da migração.

O ‘Ocean Viking’, da organização não-governamental (ONG) europeia SOS Méditerranée, com bandeira norueguesa, estava há 19 dias no mar, com 234 migrantes a bordo, à espera de uma autorização das autoridades de Itália para atracar num porto italiano.

Segundo alertou a ONG na segunda-feira, a situação a bordo era já “insuportável”, já que os migrantes apresentavam “sinais significativos de ansiedade e depressão”.

De acordo com o Ministro do Interior de França, um terço dos passageiros será realojado em território francês, mas os que não cumprirem os critérios para serem requerentes de asilo “serão devolvidos diretamente”.

O novo Governo de extrema-direita de Itália, liderado pela Primeira-Ministra Giorgia Meloni, acusa as organizações humanitárias que resgatam migrantes no mar de encorajarem o fenómeno migratório, pelo que decidiu não autorizar ou não responder aos seus pedidos para atracar em portos italianos.

Vários navios com centenas de migrantes mantiveram-se, durante dias, ao largo da costa italiana, apesar da degradação do estado de saúde dos passageiros.

Itália é abrangida pela chamada rota do Mediterrâneo Central, uma das rotas migratórias mais mortais, que sai da Líbia, Argélia e da Tunísia em direção à Europa, nomeadamente aos territórios italiano e maltês.

 

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