«Miracle au Brésil» de Augusto Boal – Uma história de tortura

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Filho de pais portugueses, Augusto Boal nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Ao longo de uma longa vida de 78 anos (morreu em 2009), este “Brecht carioca” tornou-se o rosto da dramaturgia brasileira e foi o criador do movimento “Teatro do Oprimido”, um teatro do “povo para o povo”.

Porém, a vida de Augusto Boal foi muito mais do que a construção de uma carreira de dramaturgo, ele, durante a ditadura militar brasileira (1964/85), instaurada pela extrema-direita, conheceu a tortura e o exílio, vivendo na Argentina, Portugal e França.

E é esse período negro da vida de Boal que trata «Miracle au Brésil», um livro que a Éditions Chandeigne acaba de lançar em França, traduzido por Mathieu Dosse. Aparecido em Portugal em 1974 e publicado no Brasil, durante um período de abertura da ditadura, cinco anos mais tarde, e agora praticamente impossível de encontrar à venda na versão portuguesa por estar esgotado, este “Milagre no Brasil” é um livro de memórias sobre o cárcere, a prática da tortura sofrida na pele – e descrita com um humor desarmante -, o retrato ideológico da ditadura e a vida dos prisioneiros políticos.

Em 1971, regressado a casa depois de um ensaio – “Eu tinha acabado de ensaiar Simon Bolívar e estava cansado”, escreve Boal na primeira pessoa -, ele é levado para a esquadra acusado de ser um agente de ligação ao serviço dos “subversivos”, que é como quem diz democratas, comunistas… Ele é interrogado, torturado e deixado em isolamento, sendo, depois, transferido para a prisão de Tiradentes onde entra em contacto com muitos outros prisioneiros políticos. É aí que ele descobre a desumanidade do sistema penitenciário brasileiro.

Prefaciado pela historiadora francesa Anaïs Fléchet, este «Miracle au Brésil» – título irónico que faz referência ao chamado “milagre económico brasileiro de 1969-1973”, mito propalado pelos defensores da ditadura – surge num momento em que o imenso país-continente brasileiro tem na presidência um apologista das políticas perpetradas pela ditadura militar e um exaltador – “um herói nacional” afirmou Bolsonaro várias vezes – do comprovado torturador Carlos Brilhante Ustra. Um livro que, por denunciar a tortura, a censura, a perseguição daqueles que lutam pela igualdade, se torna essencial.

 

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