‘Mœurs & Coutumes des Indiens du Brésil’ (1584) – Fernão Cardim e uma história de índios e corsários

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

 

Fernão Cardim (Viana do Alentejo, 1549) tornou-se jesuíta em 1566 e, em 1583, partiu para o Brasil como secretário do padre visitador da Companhia de Jesus. Nesses primeiros tempos de União Ibérica (1580/1640), ele deambulou pela ainda mui incógnita colónia portuguesa, mas já muito cobiçada pelas potências europeias, como os Países Baixos ou a França, que começaram tardiamente a sua expansão marítima. Cardim visitou a Baía e Pernambuco, mas também o Rio de Janeiro e São Paulo.

Dessas suas viagens nasceram três livros: “Do Principio e Origem dos Índios do Brasil e de seus costumes, adoração e cerimónias”, “Narrativa Epistolar de uma Viagem e Missão Jesuítica pela Baía, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente, etc.” e “Do Clima e Terra do Brasil”.

A Éditions Chandeigne, uma das grandes divulgadoras da História luso-brasileira deste período em França, acaba de lançar o primeiro – e, certamente o mais exótico – desses livros com o título “Mœurs & Coutumes des Indiens du Brésil”, com tradução e prefácio de Jérome Thomas.

Este livro de Fernão Cardim foi publicado pela primeira vez em português pelo historiador brasileiro Capistrano de Abreu em 1881, apesar de, queixa-se Capistrano na sua introdução de novembro desse ano, o manuscrito original estar enterrado nos arquivos de Évora e “por poucos ter sido examinado (…) o não julgaram, ao que parece, digno de ser posto em circulação”. A verdade é que este desprezo lusitano pelas suas próprias obras-primas não afeta outros povos, pois este mesmo tratado de Cardim foi publicado em… inglês mais de 250 anos antes, em 1623, na célebre, e rara, coleção de Samuel Purchas. Vejamos porquê.

Em 1601, durante a viagem do Brasil para Portugal, Fernão Cardim foi capturado por corsários ingleses e levado para Inglaterra onde foi mantido como refém até 1603. Ora, os ingleses apropriaram-se dos seus escritos e quando leram “Do Principio e Origem dos Índios do Brasil” compreenderam imediatamente ter ali uma obra de grande importância. Traduziram-na para inglês, atribuíram-lhe uma autoria falsa e publicaram-na. Foi um sucesso. A publicação em português (do Brasil) – e os créditos atribuídos a Fernão Cardim – teria de esperar 258 anos.

É portanto esta obra extraordinária que, graças ao labor incansável da Chandeigne, foi pela primeira vez traduzida para francês, chegando, enfim, 400 anos depois, ao público francófono.

Um texto que analisa os costumes dos ameríndios, mormente dos tupinambás, através dos olhos de um missionário português. Uma visão necessariamente eurocêntrica e quinhentista que começa assim: “Este gentio parece que não tem conhecimento do princípio do Mundo”.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]