Morreu António Oneto militante antifascista conhecido por lutar pela contagem do tempo de serviço militar

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Morreu na quarta-feira desta semana, dia 13 de julho, António Oneto, conhecido militante antifascista. Morreu no hospital Foch em Suresnes, vítima de um cancro no pâncreas que o fazia sofrer imenso.

As cerimónias fúnebres terão lugar na próxima sexta-feira, dia 25 de julho, no Crematório de Nanterre com uma cerimónia entre as 16h00 e as 16h30 no Mont Valérien.

António Oneto era filho de militar, nasceu no hospital militar, lá em casa o pai impunha o regulamento de disciplina militar, estudou no colégio militar, foi para a tropa, mas acabou por desertar três vezes e só depois dos 30 anos é que conseguiu livrar-se definitivamente da tropa.

“Eu vim a salto, estava no quartel em Cascais e tinha a Pide atrás de mim. A única solução era partir” contou ao LusoJornal. Foi ajudado, apanhou o comboio em Salamanca e em Hendaye foi preso com outros portugueses. “Deixaram-nos numa guarita, entre duas vias. “Um Gendarme veio chamar-me durante a noite. Tinha o meu passaporte na mão, mas era um passaporte falso, muito mal feito. Ele abanou-me o ombro e perguntou-me, ‘és tu?’, eu respondi que sim e ele disse-me ‘põe-te a andar’. Cheguei a Paris em novembro de 1972”.

António Oneto já era militar, já tinha feito a recruta e tirado a especialidade. Estava condenado a ir para a Guerra Colonial “como 99% de todos os que estavam na tropa naquela altura”. Temia ser mobilizado para a Guiné-Bissau. “Era onde os combates eram mais ferozes e as condições climáticas na Guiné eram bem piores do que em Angola e em Moçambique, havia paludismo” contou ao LusoJornal.

Sabia que, ao fugir da tropa, nunca mais podia voltar a Portugal. Mas… voltou. “Consegui um passaporte e uma licença militar falsos. A Luar tinha roubado passaportes e tinha um selo branco e conseguiu alguns impressos das licenças militares. Eu não estava diretamente ligado a eles, mas por amizades, consegui graças a eles” contava. “Houve muitos que iam, passavam outra vez a salto e voltavam a sair. No norte de Portugal, era extremamente fácil entrar e sair e naquela altura os próprios Guardas Fiscais faziam de passadores. Mas viver em Portugal é que era impossível”.

Depois do 25 de abril voltou a Portugal. “Mas fui incorporado novamente na tropa, só que a Guerra colonial não tinha acabado, de 74 a 75 eles continuavam a enviar soldados para as Colónias e eu disse-lhes que não aceitava voltar para a Guerra colonial e desertei uma segunda vez”.

“Depois desertei uma terceira vez porque eles disseram que tinha havido uma amnistia e eu voltei e apresentei-me no Estado Maior do Exército, em Belém. Um Juiz disse que não tinha tempo para analisar logo o meu caso e mandou-me para Elvas, só que eu corri mais depressa do que eles e fui dado desertor pela terceira vez”. O caso de António Oneto só ficou resolvido com a ida do Papa a Portugal. “Houve uma amnistia e foi graças ao Papa que pude voltar definitivamente a Portugal”.

Mas não regressou… e acabou por falecer na região parisiense onde vivia.

António Oneto bateu-se por várias causas e uma delas foi o assunto de capa da primeira edição do LusoJornal, em 2004: a luta pela contagem do tempo de serviço militar dos Portugueses residentes no estrangeiro que fizeram a tropa antes de emigrar.

O realizador José Vieira conta o seu percurso no documentário “Un aller sans retour”

 

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