Notícias do Canal da Mancha: do afundamento do navio Sines ao tráfico entre Calais e Hull por José Barril

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O navio ‘Sines’ foi apreendido por Portugal em 1916 e cedido a um armador particular, Melo Rego, em 1924.

Lia-se em notícias de fins de março de 1929, nos jornais do Norte de França: “Um barco a vapor foi afundado por um banco do Boulonnais. Os homens da equipagem puderam ser salvos”.

As notícias continuam descrevendo o sucedido. “Desde que o bom tempo se faz sentir, um espesso nevoeiro cobre o estreito da Mancha. A bruma foi a causa da colisão entre a embarcação Boulonnaise ‘Adine’ e o barco a vapor português ‘Sines’. O ‘Sines’ afundou-se em poucos minutos, felizmente a sua equipagem foi salva e repatriada a 20 de março de 1929, da parte da tarde, para Boulogne-sur-Mer.

‘Adine’ é uma traineira de 35 metros de longo e de 400 cavalos, era comandada na altura pelo Capitão Halgneré. Durante a noite de terça-feira para quarta-feira, 20 de março, o barco arrastava a 40 milhas, ao largo dos perigosos rochedos Caskets.

A escuridão era muito espessa e a sirene soava continuamente. De repente, por volta da meia-noite, um choque muito violento foi sentido pela tripulação, seguido de chamadas a pedir socorro. O mar estava bastante agitado. Sem dúvida, uma abordagem acabará de ocorrer.

A traineira do Boulonnais, ‘Aline’ procurou no local durante 45 minutos até encontrar dois barcos baleias que continham toda a tripulação do barco português ‘Sines’, comandado pelo Capitão António Guedes.

O ‘Sines’ tinha saído de Setúbal com destino a Hamburgo carregado de mineral, sardinha, cortiça e rebuçados. O navio e sua carga estavam assegurados pelo valor de nada mais, nada menos que 3,5 milhões de francos. Se tomarmos em conta a inflação entre aquela data e 2022, a soma assegurada corresponde a 2,3 milhões de euros.

A tripulação do cargueiro português seria inquirida na quinta-feira seguinte, de manhã, e o repatriamento fez-se de seguida para Paris, ficando apenas os oficiais em Boulogne até à conclusão da investigação.

O Sr. De Conninck, na altura Cônsul de Portugal em Boulogne-sur-Mer, cuidou de abastecer em alimentos e de reequipar os marinheiros que nada puderam salvar.

 

A informação que se segue tem 97 anos, contudo poderíamos quase escrevê-la nos dias em que estamos.

Destacamos a notícia do jornal l’Égalité do 7 de junho de 1924, sob o título: A artimanha da travessia da Mancha em cargo, uma apreensão em Calais.

Dizia a notícia que “a Polícia de Calais acaba de apreender um denominado Barrilo (Barril?) José, de 52 anos de idade, conhecido pelo nome de Tony Zogue, sujeito de origem portuguesa, que trabalhava a bordo do cago ‘City of Cork’ que transporta carvão entre Calais e o porto inglês de Hull. Este indivíduo tinha encontrado uma artimanha bastante remuneradora para aumentar o seu salário. O truque consistia em embarcar clandestinamente a bordo do ‘City of Cork’ passageiros a troco de uma confortável remuneração de 150 francos por passageiro”. Se tomarmos em conta a inflação entre aquela data e 2022, a remuneração corresponderia a 156 euros dos nossos dias.

“Para conseguir este tráfico, organizou uma banda de carretel que lhe traziam pela noite os ‘clientes’. Chegados a Hull, os clandestinos que tinham feito a travessia no porão, desembarcavam assim que a noite começasse a cair. Durante dois meses, o português tinha conseguido fazer passar o canal da Mancha clandestinamente a 6 indivíduos”.

Infelizmente para José Barril, uma das vezes foi impedido de cumprir a promessa que tinha feito a três candidatos, os quais tinham pago a passagem de avanço. Um dos ‘clientes’ denunciou o português. Foi esta denúncia que levou à apreensão do José Barril.

Este viria a ser perseguido, assim como os seus cúmplices portugueses e argelinos, por fraude e infração por embarque a bordo de barco de comércio.

 

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LusoJornal