Novela gráfica de Filipe Melo e Juan Cavia, “Ballade pour Sophie” nas livrarias francesas

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A primeira banda desta novela gráfica mostra umas mãos de pianista sobre um teclado. A uma das mãos faltam dois dedos. Assim começa a novela gráfica “Ballade pour Sophie” da autoria de Filipe Melo e Juan Cavia, traduzida e publicada em França pela Éditions Paquet. Esta obra, enorme em todos os sentidos, de mais de 300 páginas foi lançada em Portugal no final do ano passado.

O argumentista (e pianista) lisboeta associa-se novamente ao desenhador argentino e juntos criaram este épico que percorre várias décadas (de 1930 a 1990) onde se expõe a rivalidade entre os pianistas franceses François Samson e Julien Dubois. É segundo a perspetiva deste último – cujas mãos mutiladas abrem o álbum – que a história é narrada. Graças a um longo flashback, recuando aos anos 1930 e à cidade fictícia de Cressy-la-Valoise, Julien Dubois, a quem a mãe obriga a passar horas a praticar ao piano tendo em vista um concurso nacional, conta os primeiros anos da sua vida. Nesse concurso, Julien faz a sua parte e toca a sua peça sem falhas, mas…

É então que ao fundo do corredor ele vê pela primeira vez aquele que viria a tornar-se o seu grande rival: François, o filho do homem que faz as limpezas no teatro e que aprendeu a tocar piano sozinho. O rapaz de origem proletária, após grande insistência do pai, é inscrito no concurso e toca Chopin. O público fica rendido perante a descoberta de um génio. Todavia, graças aos subornos maternos, Julien lá vence o concurso. Esta sensação de ter atingido a glória imerecidamente marcá-lo-á para sempre.

Já no fim da vida, doente, Julien aceita, embora renitente, conceder uma entrevista a uma jovem jornalista. Ele, enfim desejoso de confessar o seu perpétuo sentimento de inferioridade, vê nela a hipótese de redimir os seus pecados e de render justiça a François Samson. O velho Julien conta então a história com toda a honestidade.

Ao longo de cinco capítulos, os expressivos desenhos de Juan Cavia conduzem o leitor através das décadas – as páginas dedicadas à ocupação nazi do Hexágono são especialmente impressionantes – em perfeita simbiose com a bela linguagem do argumentista português e com a complexidade humana que é construída página a página. Uma complexidade que em nada é perturbada pela singela estrutura narrativa. Além disso, a qualidade da edição propriamente dita, tanto a edição portuguesa (um investimento ao qual, infelizmente, apenas alguns autores e desenhadores portugueses têm direito) como a francesa, tornam este livro num valioso objeto.

“Balada para Sophie” é talvez o melhor livro de banda desenhada alguma vez criado em Portugal.

Para finalizar, um pequeno extra: “Balada para Sophie” também foi transformada em música. Basta procurá-la na internet.

 

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