Nuno Gomes Garcia conversa com Elisabete Soares: “Era essencial criar esta livraria em Bruxelas”

A “La Petite Portugaise” é a nova livraria localizada no centro da cidade de Bruxelas dedicada à cultura lusófona e Elisabete Soares, antiga funcionária das instituições da União Europeia, é um dos membros do grupo de amigos que decidiu criar uma associação sem fins lucrativos que deu origem a este projeto. É na sede dessa associação que se encontra a “La Petite Portugaise”.

Depois do encerramento da livraria Orfeu há já alguns anos, a capital belga ficou órfã de um espaço que divulgasse a língua portuguesa e as culturas lusófonas. É essa falha que a “La Petite Portugaise” veio colmatar.

Foi assim criada uma livraria que, por um lado, serve os Portugueses que lá vivem e, por outro, serve para aproximar as culturas lusófonas daqueles que por elas se interessam.

Desde janeiro de 2018, altura da sua inauguração, a “La Petite Portugaise” já acolheu escritores, músicos, fotógrafos, tradutores, homens e mulheres que aproximam a lusofonia do centro da Europa.

 

A Elisabete faz parte de um grupo de amigos, nem todos portugueses, que decidiu criar um polo dinamizador da Lusofonia. Explique-nos como surgiu este vosso projeto.

Esta ideia surgiu exatamente como o Nuno disse: da vontade de um grupo de amigos, principalmente a da nossa Presidente, a Susana Pratt, em divulgar a cultura portuguesa em Bruxelas. Há uma diáspora portuguesa importante e era realmente essencial criar esta livraria em Bruxelas. Aliás, no dia da inauguração da “La Petite Portugaise” tivemos a perceção clara da importância e da falta que estava a fazer um local como este que agora temos em Bruxelas. Havia imensa gente. Havia gente no passeio. Tivemos de abrir as portas. Felizmente não chovia, não estava muito frio, apesar de ser janeiro, e a coisa passou-se muito bem.

 

Elisabete, a livraria efetivamente não é um espaço muito grande, mas porque é que escolheram este nome: a “pequena portuguesa”?

A história que levou ao nome tem uma pontinha de ironia. Começou por ser “La Petite Librairie Portugaise”, mas era um nome muito comprido, não tinha graça e primeiro que se lesse nunca mais acabava. Então pensou-se: porque não apenas “La Petite Portugaise”? É aí claro que entra a pontinha de ironia: nós somos todas pequeninas, portuguesas, o espaço também é pequeno… Mas tem também outro duplo sentido, não se era a isso que se estava a referir. É que estas pequenas têm vontade de fazer grandes coisas.

 

E são só grandes mulheres a trabalhar no projeto?

Não, também temos homens. Não na Direção, mas a colaborarem muito ativamente connosco.

 

Elisabete, a livraria abriu há quase um ano. Fale-nos dos eventos que por lá têm acontecido. O público tem reagido bem?

O público tem reagido muito bem. É claro que há eventos com mais gente que outros. Nem nós sabemos porquê. Mas o público tem participado. Há uma coisa curiosa que eu no outro dia conversava com a Susana e tínhamos chegado as duas à mesma conclusão. Nos meses iniciais, o nosso público era sobretudo composto por aquelas pessoas que nós conhecemos e o amigo que traz outro amigo e por aí fora. O certo é que a seguir às férias de verão apercebemo-nos que havia muitos jovens que estavam a vir à livraria. Casais jovens que estão instalados em Bruxelas há pouco tempo ou por pouco tempo. Com os jovens é uma coisa fantástica porque as redes sociais funcionam tão bem que se um deles nos diz “ah, vocês hoje estão a organizar isto aqui? Eu vou já contactar os meus amigos para lhes dizer”. E passado meia hora temos os tais amigos na livraria. É portanto um fenómeno interessante este dos jovens que se estão a aproximar da livraria.

 

São então recém-emigrados?

Sim, exatamente. Alguns estão em Bruxelas há seis meses, outros acabaram mesmo de chegar e não sabem ainda por quanto tempo ficam. É esse o tipo de pessoa que começou a aparecer e que nos dá imenso prazer.

 

É a prova óbvia de que um espaço desses fazia falta. Falemos agora de coisas mais práticas. Este vosso projeto tem tido algum tipo de apoio institucional? De algum organismo ligado ao Estado português, por exemplo.

Não, não tem. Os nossos membros e os nossos participantes contribuem para a associação de uma forma voluntária e espontânea. Isso para nós é um grande incentivo, pois mostra que o que fazemos é apreciado. Nós damos muita atenção ao que o nosso público quer. E depois os subsídios que não temos da parte das Instituições… até porque, digo-lhe, por falta de tempo. Nós somos poucos. As coisas têm acontecido a uma tal velocidade que ainda não nos concentramos sobre isso. Eu sei que existe a possibilidade de obter financiamento de projetos, até através do Consulado e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas como digo é sobretudo uma questão de tempo. Temos de nos dedicar a isso. Depois temos outro tipo de colaborações importantes com outras associações. Colaboramos muito nas histórias infantis musicadas que fazemos uma vez por mês, ao domingo. Colaboramos muito com a associação lusófona “OCA”, também sem fins lucrativos, e com a ONGD “Afetos com Letras”, uma organização não-governamental para o desenvolvimento.

 

Entrevista realizada no quadro do programa «O livro da semana» na rádio Alfa, apoiado pela Biblioteca Gulbenkian Paris

Próxima convidada: Sandra Catarino autora de “Os Fios”

Quarta-feira, 05 de dezembro, 9h30

Domingo, 09 de dezembro, 14h25