Obra preparatória da encomenda de D. João V exposta pela primeira vez em Paris

A obra preparatória de Agostino Masucci (1691-1758) para a capela-mor da Sé de Évora, encomendada por D. João V, foi vista pela primeira vez, em Paris, no salão Fine Arts que decorreu entre 07 e 11 de novembro, no Carrousel du Louvre.

A obra, proveniente de um colecionador português, foi apresentada ao público pela Galeria Mendes, uma das 40 galerias representadas no certame. “Este quadro tem uma qualidade pictórica e artística excecional”. “É um pintor que tinha as maiores encomendas internacionais e também as maiores encomendas para as grandes igrejas italianas”, disse à Lusa Philippe Mendes, dono da galeria e lusodescendente.

O galerista referiu que esta obra representando a Assunção da Virgem Nossa Senhora, “tem a concentração da grande pintura italiana desse período”, fazendo referência às cores, ao estilo barroco e rococó. A tela de dimensão média que mostra com detalhe a ascensão da Virgem e os doze apóstolos, foi possivelmente “feita para mostrar ao Embaixador da corte em Roma ou mesmo enviada para Portugal para aprovação do rei”, o progresso do trabalho do pintor.

A obra final do mestre italiano, de grandes dimensões, instalada na Sé de Évora, faz parte de um conjunto de várias obras encomendadas pela corte portuguesa. Outros exemplos de obras de Masucci em Portugal podem ser encontrados na Igreja de S. Roque, em Lisboa, e no Palácio de Mafra, onde a sua representação da Sagrada Família seria uma das pinturas favoritas do rei.

Philippe Mendes gostaria que esta obra voltasse para Portugal e que fosse vista por todos num museu. “Este quadro para a História portuguesa é importantíssimo. É esta pintura romana que vai influenciar todos os pintores nesse período em Portugal como Pedro Alexandrino, André Gonçalves ou Vieira Lusitano”, indicou Philippe Mendes, acrescentando que todos os restantes estudos para as grandes telas de Masucci se encontram em museus e fundações italianas.

No entanto, o lusodescendente não está otimista. “O grande problema dos museus portugueses é que não são reativos. É uma questão de organização administrativa e burocrática. O processo de aquisição por um museu português pode demorar muito tempo, e o mercado da arte não funciona assim”, assinalou Philippe Mendes, admitindo que o quadro já está a suscitar interesse em coleções privadas em Portugal, mas também nos conservadores franceses e italianos que já a viram.

Com quase dez anos de existência, a Galeria Mendes, que se concentra na pintura europeia do século XVI ao século XIV, tem vindo a apostar cada vez mais na pintura portuguesa. “Tento ter obras com relação a Portugal para posicionar-me não só no mercado, mas como um defensor da cultura portuguesa aqui em França”, disse o galerista à Lusa, acrescentado que, salvo raras exceções, a pintura portuguesa ou ligada a Portugal continua a ser “desconhecida” em França.

A apresentação neste certame era um objetivo para Philippe Mendes. “Aqui estão representados as maiores galerias e é uma feira muito exclusiva. Aqui estão os melhores, e os critérios de aprovação das obras são muito estritos”, revelou o galerista.

A exclusividade do certame foi confirmada à Lusa por Louis de Bayser, membro do Comité de Organização da Fine Arts. “O critério principal é a qualidade. Temos ‘stands’ com tipos de pintura muito diferentes, mas a qualidade está sempre ao mesmo nível. Somos exigentes”, afirmou Bayser. O salão dedicado exclusivamente à pintura, desenho e escultura conta com a presença de 40 galerias europeias e norte-americanas e recebeu no ano passado cerca de 7.000 visitantes.

Nesta segunda edição, algumas das obras à venda são de Delacroix, Picasso ou Rodin. Para além do espaço principal no Carrossel du Louvre, o salão promove ainda durante esta semana visitas aos depósitos de escultura do Louvre, da cidade de Paris e visitas guiadas na Capela Expiatória, na Casa-Museu Victor Hugo e no Museu Condé, em Chantilly.

 

 

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