Opinião: Aljustrel, vila de oposição ao regime de Salazar


Aljustrel, no baixo Alentejo, minha Terra, sempre foi uma vila de oposição ao regime de Salazar.

Normalmente, os elementos da GNR que iam para Aljustrel, eram reconhecidos como brutos. Dos trabalhadores do campo aos homens mineiros das Minas de Aljustrel, reunidos por trás da bandeira do Partido Comunista Português, criavam uma união que faziam de Aljustrel uma vila temida pelo regime de Salazar.

Criança que eu era, naqueles anos de 60, com 8 anos, recordo-me de uma noite em que a população manifestava na rua e, perto da minha casa, a GNR tirava tiros, que me levou a meter os dedos nos ouvidos, embora tivesse fechado em casa.

Numa noite de 28 de abril de 1962, trágicos acidentes aconteceram numa manifestação de rua contra o regime, contra a ditadura, em que a GNR atingiu mortalmente duas vítimas – dois homens de Aljustrel, António Adanjo e Francisco Madeira – fazendo ainda numerosos feridos, alguns em estado grave, com sequelas para o resto das suas vidas.

Tratou-se de uma manifestação de revolta da população de Aljustrel, com o objetivo de reivindicar a libertação de várias pessoas que, dias antes, tinham sido presas pela Pide.

Quando a data do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, se aproximava, sempre foi habitual em Aljustrel, a Pide levar para interrogatórios e depois para a prisão, homens e mulheres, como uma intimidação.

Recordo-me ter uma vizinha, por sinal tia de uma das minhas amigas de infância, que não negava ser Comunista e contra o regime de Salazar, por isso foi presa várias vezes. Ela tinha em permanência, no seu quarto, um pequeno saco com alguma roupa, pronto para quando viessem novamente busca-la. Intervenções essas que, normalmente, se faziam de madrugada, surpreendendo as pessoas na cama.

Depois daquele dia histórico do 25 de Abril, a população passou a ocupar uma das quintas que pertencia aos engenheiros da Mina, e fizeram um Jardim para os filhos dos Homens que nunca foram crianças. Jardim esse que é agora Jardim Público.

Quando chega o 25 de Abril, a população de Aljustrel continua a recordar e a homenagear, honrando a memória daqueles que foram vítimas de um regime odioso como Portugal teve, e que só acabou com o 25 de Abril de 1974.

Álvaro Rito