Opinião: Em Portugal, nem tudo é para queimar

As férias estão a chegar ao fim. Entre dois fogos florestais, com bons ou maus olhos, os Portugueses residentes no continente, assistem às tradicionais romarias dos emigrantes e às incessantes excursões dos visitantes estrangeiros, desejosos de conhecer o destino turístico que está na moda.

Depois de terem sofrido durante muito tempo, como os gregos, espanhóis e italianos, devido às medidas impostas pela Comissão Europeia, em troca dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional, os Portugueses respiram um pouco melhor, mesmo entre as praias superlotadas e o fumo dos incêndios.

Mais isso não vem inscrito nos guias turísticos, férias são férias, esquecer tudo ou que não correu bem durante o ano, e positivar as dificuldades que podem surgir após o regresso ao quotidiano.

O quotidiano dos portugueses melhorou, não tanto como o dos milhões de passeantes em terras lusitanas, mas melhorou, em contradição com as recomendações políticas da União Europeia.

Discretamente, Portugal realiza proezas económicas onde a maioria dos países da zona euro falham ou atingem os limites do sistema.

O Governo português libertou-se do modelo económico imposto pela Comissão Europeia, e em pouco mais de dois anos, provou que entre o sistema de austeridade modelado por Bruxelas e a quimera populista, existe uma terceira via.

Apoiado pelo Partido Comunista, os Ambientalistas e a Extrema-Esquerda, o Primeiro Ministro socialista António Costa, para reavivar a economia, optou por uma rutura completa com as recomendações políticas da União Europeia. Foi uma das promessas da coalisão quando estava em campanha.

Sem serem tão significativos, como os Portugueses tanto esperam, alguns resultados estão à vista. O país reduziu o seu deficit orçamental, o produto interno bruto cresceu, a taxa de desemprego caiu, o salário mínimo aumentou, as pensões de reforma, como os abonos de família também aumentaram, enquanto os impostos sobre os salários baixos foram reduzidos.

O programa de privatização de serviços e infraestruturas, implementado pelo Governo precedente foi interrompido, assim como o processo de redução dos salários dos funcionários, e além disso, os direitos dos trabalhadores também foram fortalecidos.

Se os resultados alcançados pelo Governo de Esquerda de António Costa continuarem, é todo o modelo de referência europeu, inspirado no modelo alemão que pode ser perturbado, sem austeridade nem populismo. Discretamente.

A única duvida que me atormenta, é ver o ecossistema português a arder – depois de tantas promessas governamentais que nunca mais voltava a acontecer.

Pelo meio das sensacionalistas telenovelas incendiárias que assolam e entristecem o verão em Portugal, há muitos interesses económicos em jogo e as mediáticas lágrimas de crocodilo dos responsáveis governativos, são insuficientes para atenuar as chamas.

Será bom para a economia portuguesa, que as florestas se transformem em cinzas? Para Bruxelas ver e participar? Ou para turista fotografar e fugir?