Opinião: Lembram-se de nós só quando é tempo de votar


Sou cidadão português a viver fora de Portugal (é assim que me considero). Como tantos outros, parti um dia em busca de oportunidades, estabilidade ou simplesmente de uma vida diferente. Mas, apesar da distância, continuo profundamente ligado ao meu país. Acompanho tudo o que se passa, com atenção, com esperança… e cada vez com mais revolta.

Porque, como milhares de portugueses na diáspora, sinto-me sistematicamente ignorado. E todos os grandes partidos, só se lembram de nós quando chega o tempo de votar, já os pequenos nem se lembram que existimos. A quando um partido para os portugueses espalhados no mundo?

Durante as campanhas eleitorais, há um instante fugaz em que os “portugueses no estrangeiro” entram no discurso. Promessas soltas, frases feitas, apelos vagos – e depois, silêncio. Passado o ato eleitoral, voltamos a ser esquecidos. Pior: desprezados. Sim, desprezados. Porque não há medidas concretas. Porque os problemas reais que enfrentamos são varridos para debaixo do tapete: as falhas constantes no voto por correspondência (a minha própria esposa não recebeu sequer o seu envelope!), o abandono consular, a invisibilidade do nosso contributo. Parece que só existimos quando os nossos votos podem decidir um resultado – como num empate técnico. Somos tratados como um número estratégico, não como cidadãos de pleno direito.

E há algo ainda mais revoltante: o desprezo contínuo durante a campanha. Seguimos o debate político pela rádio, pela televisão nacional, e também aqui em Paris, onde o LusoJornal fez tudo o que pôde para informar a nossa Comunidade, sem receber um único cêntimo do Estado. Uma vergonha! Onde está o investimento do Governo numa campanha que nos diz respeito? Onde está o respeito por quem continua, mesmo longe, a participar na vida democrática do país?

Não somos só números. Somos pessoas. Somos portugueses. Contribuímos com remessas, com investimento, com cultura, com presença. Trabalhamos fora, sim, mas continuamos a amar Portugal, a representá-lo com dignidade. E, no entanto, tratam-nos como cidadãos de segunda.

É urgente que Portugal mude esta mentalidade. Que nos veja como parte essencial da Nação e não apenas como votos a capturar, mas como vozes que contam. Que merecem ser ouvidas, durante todo o ano.

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Luís Gonçalves

Português no estrangeiro