Opinião: Magalhães na rue Magellan, em Paris

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27 de abril, ano da graça de 1521, ilha de Mactan (bem no centro do arquipélago da Filipinas). Ao raiar da aurora, na sequência de uma escaramuça menor, o Capitão-mor da armada enviada pelo Rei de Espanha para procurar acesso rápido às especiarias orientais cai sob as lanças de um senhor rebelde ao domínio europeu.

Chamava-se Fernão de Magalhães, tinha nascido 41 anos antes em Sabrosa, Trás-os-Montes. Depois de longos anos ao serviço do Rei de Portugal, Magalhães, grande conhecedor das artes do mar, com bons conhecimentos de matemática e astronomia, acabou por oferecer os seus préstimos ao Rei de Espanha. A sua capacidade para interpretar cartas de marear e uma visão estratégica notável permitiu-lhe colocar a hipótese de alcançar a Índia navegando sempre para Ocidente; ou seja, abandonando a rota do Cabo da Boa Esperança, procurar passagem para os mares da Índia a partir do sul do Brasil. O plano nunca poderia interessar a política portuguesa pois, a confirmar-se, proporcionaria aos seus rivais caminhos alternativos ao monopólio comercial marítimo que, nesses anos, era ainda português.

Senhor de uma vontade férrea Magalhães ganhou a confiança da monarquia espanhola, venceu as dificuldades de navegação, venceu os motins a bordo dos navios, encontrou uma difícil, mas eficaz passagem para Oriente… O novo Oceano encontrado tem o nome que ele mesmo lhe deu, Pacífico (em virtude da enorme calmaria que prejudicou o avanço dos navios); o caminho que lhe permitiu alcançá-lo ficou com o seu nome, Estreito de Magalhães, e também na Lua, numa cratera, e também fora da Via Láctea, na Nebulosa de Magalhães, o seu nome é homenageado.

Se, pela morte em combate não cumpriu a viagem que se propusera, Magalhães pôde, ainda assim, ao alcançar territórios de que, pelas viagens portuguesas, já havia conhecimento provar a esfericidade da Terra.

O lema encontrado para o lembrar quinhentos anos depois define-o como alguém que “ligando os oceanos”, ligou os mundos – é um resumo feliz e não polémico da sua carreira.

27 de abril, ano de 2021, rue Magellan, 8ème arrondissement, 17 horas! Na rua, um enorme cartaz (2 metros de altura por 1,40 de largura), da autoria do coletivo Borderlovers, que se destaca pela atenção que tem dado nas suas pinturas às personalidades culturais portuguesas e internacionais. Sobre um fundo onde se destaca um pormenor do mapa do estreito que o celebrizou, o seu retrato imaginário, de grande colorido, fixa o olhar num horizonte para além do tempo e do espaço.

O Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, evocará a figura no dia da sua morte, um ator (Jorge Tomé) lerá a descrição dessa morte na pena do italiano Antonio Pigafetta, as pessoas que se reunirem e as que se lhes quiserem juntar (no cumprimento das regras sanitárias em vigor), poderão confirmar que o voto do cronista (“de que o nome de um tão valente e nobre capitão não seja apagado nem posto em esquecimento”) foi cumprido.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão às 02h30, 05h45, 06h45, 10h30, 13h15, 16h15 e 20h00.

 

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