Opinião: Mia Couto, Biberstein e Marco da Silva Ferreira

A semana passada (com dois acontecimentos que noticiámos e um outro que nos escapou) exige um curto balanço: Mia Couto, Biberstein e Marco da Silva Ferreira constituem um trio diversificado de linguagens e de especificidades culturais da lusofonia sobre as quais vale a pena refletir.

Uma turma de alunos do Lycée Balzac na sessão de dedicatórias em Paris e cerca de 150 pessoas em Vincennes seguem e celebram a linha, os êxitos literários, de Mia Couto. A editora da sua mais recente obra traduzida, “Les Sables de l’Empereur”, é Anne Métalié. A inventividade de Mia Couto confirma-se e consolida-se; é de forma e de conteúdo, passa nas histórias que conta (ou no modo como o faz) mas também na língua que reinventa. E mereceu chamadas de atenção que colocam (como o fez o Le Figaro, na página literária desta semana) este moçambicano branco (“uma tribo” que não tem mais do que duas mil ou três mil pessoas, diz ele), como o mais nobelizável dos escritores em português.

A obra pictórica de Michael Biberstein, para além das qualidades intrínsecas que tem – a exposição de que vos falo é uma extraordinária via de conhecimento que vai da análise material e geométrica da pintura à elevação espiritual – abre outra via de miscigenação cultural lusófona: a que levou este suíço-americano a tornar-se também português e a encontrar, primeiro, no Monte da Lua (ou seja, em Sintra) e depois no Alentejo, lugares onde viveu, meios para inventar paisagens místicas interiores, afinal tão pouco enraizadas na cultura visual portuguesa mas que generosamente os ofereceu. Seeing está em exposição na Galeria Jeanne Bucher Jeagger do Marais – 5 rue de Saintonge – até 8 de abril.

Finalmente, uma nota que faltou na semana passada mas que se projeta para o futuro: o espetáculo de dança Bisonte, do jovem coreógrafo Marco da Silva Ferreira, suficientemente conhecido e reconhecido em França para ter a casa cheia e longos aplausos nos escassos dias em que passou pelo Théâtre des Abbèsses. Como refere o comunicado de imprensa trata-se de pôr em ação “seis corpos musculosos e emocionais”, humanos “animais e cyborgs simultaneamente, em elegantes fatos desportivos” que saltam “entre a histeria e a melancolia, a hipermasculinidade e o feminino. Esses dançarinos tornados bisonte, são feras selvagens, poderosas e imponentes. Mas, sendo herbívoros, são também presas fáceis para os seus caçadores”. Marco da Silva Ferreira desenvolve esta coreografia (como as anteriores) no contexto cultural das danças urbanas. E como regressa frequentemente a França e se apresenta em várias cidades, se tiver oportunidade para ver estas ou outras das suas obras não perca a oportunidade.

Finalmente, três apontamentos artísticos para a semana que começa: artes visuais e musicais (às vezes cruzadas).

Dia 11, na coletiva Dessin à volonté, a artista Alexandra Sá expõe um longo néon (obra de 2011) na Galerie La Ferronnerie Brigitte Négrier – 40 rue de la Folie-Méricour, em Paris.

Dia 13, no Consulado Geral de Portugal em Paris, é relançado o livro infantil Ko e Kô, com desenhos de Vieira da Silva, transformado numa obra de arte total. Na ocasião, Bruno Belthoise e a editora da Chandeigne, Anne Lima, conversam sobre uma obra que foi enriquecida pelas pautas musicais que Belthoise interpreta e por uma animação-vídeo de Maud Alessandrini, feita a partir dos desenhos da pintora.

À mesma hora, do mesmo dia 13, tem lugar uma Rencontre Poétique que também se anuncia como obra de arte total, deixando aos presentes a faculdade de se exprimirem através dos meios que desejem, É às 19h00, no Centre Paris Anim’ Jean Verdier – 11 rue Lancry, em Paris – e é Lídia Martinez que organiza esta festa livre. No final ou no meio poderemos assistir a um concerto de Mariana Fabião, uma voz portuguesa em Paris que merece a nossa especial atenção.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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