Opinião: O voto na emigração e confusões partidárias

No passado dia 1 do corrente foi publicada no LusoJornal uma notícia relatando a discussão em Assembleia da República sobre o voto dos Portugueses residentes no estrangeiro, confirmando a triste realidade de que os emigrantes só são mencionados ou lembrados pela maioria dos políticos portugueses no 10 de junho ou em períodos eleitorais, como é agora o caso.

E sendo período de pré-campanha, com o “promessómetro” a atingir graus elevados, vemos políticos em altos cargos a declarar a aberta possibilidade de conceder aquilo que há pouco classificavam de absolutamente impossível, como o descongelamento do tempo de serviço dos professores, iniciando assim a época do vale tudo, tudo se promete, tudo é boa-vontade, abrem-se novas oportunidades, surgem subitamente verbas suficientes para processos que há pouco não era viável financiar, porque o importante é conseguir mais uns votos para atingir a almejada maioria, e os fins acabam sempre por justificar os meios.

E assim, nestes tempos do vale tudo pré-eleitoral, em que muitos partidos esquecem a coerência mínima, porque o que é preciso é conquistar o eleitorado, o Deputado Hugo Carneiro do PSD resolveu afirmar, após uma proposta de última hora desse partido defendendo o voto eletrónico e por correspondência nas eleições presidenciais ser chumbada pelo PS, PCP e Bloco de Esquerda que este último era contra o voto por correspondência dos emigrantes, esquecendo, lamentavelmente, que foi exatamente o Bloco que lutou pela gratuitidade do voto por correspondência nas eleições legislativas, cujo porte era anteriormente pago pelos votantes, assim como pelo alargamento do universo dos citados através do recenseamento automático.

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Como cabeça de lista do BE pelo Círculo da Europa nas últimas eleições legislativas julgo importante haver correção mínima e, se o “promessómetro” não puder ser evitado, pelo menos não se afirme que um partido é contra medidas que na verdade defendeu e apoiou.

Sobre esse ponto, de realçar a intervenção do Deputado pela emigração, Paulo Pisco do PS, sobre o problema das fotocópias do Cartão de cidadão que têm de acompanhar o voto por correspondência, exigência resultante de um acordo entre PS e PSD, embora exista uma determinação legal que proíbe reprodução do citado documento, um assunto que continua envolvido nas brumas da memória legislativa com cada um fazendo a interpretação que bem lhe parece, o que acabou por causar a anulação de votos dos Portugueses na Europa por falta da fotocópia, enquanto que os votos de fora da Europa, em idênticas condições, eram validados, cortesia do PSD, agora tão preocupado, assim como o PS, com questões que já podiam e deviam ter resolvido mas que optaram por ignorar, alardeando agora propostas impossíveis de concretizar com um Governo apenas de gestão.

Portugueses espalhados pelos cinco cantos do Mundo, representados em Assembleia por dois Deputados da emigração cuja principal preocupação é manter o cargo seguindo religiosamente os ditames do Partido no poder e por Secretários de Estado das Comunidades muito ocupados em visitar os países das ditas, mas que geralmente ficam pela visita sem que nada se modifique, ignorados por Governos sucessivos, iludidos por promessas eleitorais de quem apenas quer votos sem resolver os problemas, com direito a voto mas votados ao esquecimento, sem representação parlamentar minimamente digna desse nome, até quando?

Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares

Cabeça de Lista pelo BE nas eleições Legislativas de 2021/22