Opinião: Perder tudo em Angola, sobretudo os sonhos da juventude


Sobre o dia 25 de abril de 1974, relato o meu ponto de vista como uma cidadã portuguesa das antigas colónias.

Chamavam-nos então “os Retornados”, aqueles portugueses que viviam e cresceram naqueles territórios das antigas “Províncias Ultramarinas”, o qual só foi possível a partir dos eventos ocorridos em 25 de Abril de 1974. Mas nem tudo correu bem, por isso ofereço aqui uma confidência de quem viveu esse dia com 19 anos em Angola…

O 25 de abril de 1974, foi para mim uma enorme tristeza!

Senti ser o fim da minha vida em África, mais precisamente em Angola, a terra onde nasci e onde passei os melhores momentos da minha infância e juventude ! Vida de trabalho do meu pai que ficou perdida.

Já antes do 25 de abril de 1974 os movimentos independentistas em Angola pressionavam as tropas portuguesas para que junto do Governo português seja proclamada independência deste território africano. Mas Marcelo Caetano, então Presidente do Concelho, nunca aderiu a esse pedido.

Em junho de 1975, arrastava-se cada vez mais uma guerra entre os 3 movimentos independentistas – o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional de Independência de Angola) – que marcou a data da independência a 11 de novembro de 1975. O processo de descolonização em Angola foi o mais complexo e aquele que teve mais consequências internas e internacionais para Portugal. Regressei sozinha a Portugal em julho de 1975, com 21 anos, por obrigação. Mais tarde regressou a minha mãe e por último o meu pai. Regressámos todos por obrigação, devido ao clima de insegurança e violência que se sentia nas ex-colónias e a falta de confiança no futuro. Angola vivia em estado de guerra entre patrulhas e metralhadoras, recolher obrigatório, entre outros constrangimentos que podia trazer uma situação semelhante de guerra.

De regresso a Portugal, éramos considerados como Retornados ou refugiados, ou, como cheguei a ouvir, comentários em que os nascidos em África eram “brancos de segunda”, que era o meu caso, e de outros que tinham nascido, como eu, em África.

Nessa altura, quando os Retornados começaram a chegar fortemente a Portugal, eram vistos como colonialistas, porque competiam pelos escassos empregos disponíveis em Portugal. No nosso caso tivemos a sorte de termos a casa dos meus avós onde ficámos durante mais ou menos um ano, até termos a nossa própria casa e assim não precisar de recorrer ao IARN (Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais).

A minha visão do 25 de Abril, psicologicamente, foi péssima: ter de deixar de um dia para outro, amizades, emprego e bens, como a nossa casa, objetos, recordações de infância, sem nenhuma compensação do Estado português em 50 anos por todos os bens perdidos nas ex-colónias!

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Anabela