Opinião: Vamos a votos… outra vez

Com a decisão do Presidente da República de eleições antecipadas a 10 de março de 2024, em seguimento da crise governamental que levou à dissolução da Assembleia, ficou assente que em breve os Partidos políticos iniciarão as campanhas eleitorais para eleição de novo Governo.

Um processo democrático? Sem dúvida. Se o povo não está satisfeito com a atuação do Governo assiste-lhe o direito de, por meio de processo eleitoral, eleger outro que, espera-se, seja melhor.

Sendo facto adquirido que o desempenho dos governantes agora retirados deixava mesmo muito a desejar, com a Saúde e a Educação comparáveis a edifícios em ruínas ameaçando derrocada iminente e a corrupção cada vez mais evidente, como por exemplo no caso das indemnizações milionárias da TAP em maio passado, põe-se porém a pergunta sobre a repetida afirmação de “Governo maioritário” quando afinal a dita maioria foi mesmo muito precária, como cerca de 47% de abstenções.

Porque será que os Portugueses votam tão pouco? Durante as duas campanhas eleitorais em que fui cabeça de lista pelo Círculo da Europa, em 2015 e 2021/22, ouvi sempre os mesmos pretextos, ou não votam porque acham que políticos são sempre os mesmos e não muda nada, ou não votam porque “não acreditam” em política.

Não é estranho que pessoas que nunca admitiriam que lhes impusessem o tipo de roupa que devem usar ou o local onde devem passar as férias permitam que sejam outros a escolher, por quatro anos, quem vai tomar decisões tão importantes sobre a sua vida, como o salário que vão auferir ou a qualidade de ensino que os seus filhos vão ter?

Porque, infelizmente, dentro e fora de Portugal a situação é idêntica, poucos votantes optam por exercer o seu direito ao voto. Por indiferença, por inércia, por falta de politização, porque será? Mas se depois o Governo eleito por outros não lhes agradar, cai o Carmo e a Trindade, como se costuma dizer, e então gritam: “-São todos uns ladrões!”.

Pois talvez sejam. Mas se assim é porque permitiram que outros votassem neles? Pergunta sem resposta.

E assim, esperando que com mais votantes cá e lá nas próximas eleições a escolha dos governantes seja mais conveniente, esperando também que não se repitam fantochadas semelhantes à que sucedeu da última vez com os votos do Círculo da Europa anulados por falta de cópia do Cartão de Cidadão, enquanto que na sala ao lado os votos provenientes do Círculo fora da Europa eram validados fossem ou não acompanhados da dita, um desrespeito total pelos direitos dos Portugueses no estrangeiro que causou forte perca de votos, pois na repetição de processo eleitoral muitos não votaram, compreensivelmente fartos de tanto disparate.

No respeitante aos Portugueses no estrangeiro, ignorados e desrespeitados por vários Governos sucessivos, alvo de decisões inaceitáveis como a de manter a Propina para os alunos dos cursos de Português, que continua a originar perca anual de centenas de alunos, assim como o desmantelamento deliberado do sistema do Ensino do Português no Estrangeiro, com menos de metade da dimensão de 2010, aliado à proibição de ensinar Português Língua Materna ou de Origem, porque só a vertente Português Língua Estrangeira é que dignifica a nossa língua no estrangeiro, mantra repetida por muitas mentes captas, algumas delas em Assembleia, e que o ideal será o Português ser disciplina nas escolas dos países de acolhimento, omitindo que assim Portugal se distanciará das suas obrigações constitucionais para com os filhos dos trabalhadores portugueses no estrangeiro e do Ensino da Língua e Cultura Portuguesas.

Todos nós, portugueses dentro ou fora do território nacional, precisamos de um novo Governo.

Um Governo que nos respeite onde quer que estejamos, um Governo que sirva o povo e não que se sirva do povo, um Governo que não faça vénias ao capital deixando de lado os trabalhadores, um governo que não privilegie os estrangeiros relativamente aos Portugueses, que atualmente nem as rendas em Lisboa podem pagar.

Um governo para Portuguesas e Portugueses, com maiúscula, um Governo que seja digno de governar.

Mas que para isso suceda, é necessário votar e não ignorar. Porque, se desta vez o “Habituem-se, vamos ficar por mais quatro anos” de António Costa não se concretizou, e ainda bem ,nada garante que o próximo governo não se mantenha toda a legislatura, independentemente do desempenho.

Portanto, votar. E não voltar a confiar em quem não cumpriu o que prometeu.

Maria Teresa Soares

Secretária-Geral do Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas (SPCL)