“Passé Outre” de Sébastien Rozeaux, um romance que é uma viagem por Lisboa

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Depois de “Préhistoire de la Lusophonie”, um livro académico que nos conduz à origem da “identidade luso-brasileira”, Sébastien Rozeaux apresenta-se agora com “Passé Outre”, um belo romance escrito como quem pinta uma aguarela e pacífico como a fotografia que dá corpo à capa.

Este é o seu terceiro romance, depois de ter publicado “La garde républicaine (2017) e “Le barbu céleste” (2014), que trata o então (e já esquecido) “milagre brasileiro” dos anos da presidência Lula, cujos planos de índole social e progressista arrancaram milhões de brasileiros às garras da pobreza mais abjeta.

Sébastien Rozeaux viveu e trabalhou no Rio de Janeiro e em Porto Alegre enquanto professor da Alliance Française.

Encobrindo de certa forma o espírito inquieto do protagonista humano, a linguagem deste romance pode ser comparada às pinceladas de um impressionista, leves na forma, quase etéreas, mas carregadas de atentas impressões sobre a protagonista não-humana da obra: a cidade de Lisboa.

E nota-se a paixão do autor pela segunda capital mais antiga da Europa – fundada quinhentos anos antes de Roma e apenas ultrapassada por Atenas nesse campeonato da antiguidade -, esse caldeirão de povos e culturas, porto de entrada e de saída, nomeadamente para o país-continente que é o Brasil, outro dos países queridos do escritor. Rozeaux conhece bem os recantos (e encantos) perdidos de Lisboa, as vielas da Madragoa e as ruelas de Alfama, encanta-se com os poetas e as fadistas que habitaram a cidade, saboreia os seus cruzamentos arquitetónicos, mergulha nas suas glórias e nos seus desastres e, por força da própria intriga, compara o seu passado pós-revolucionário dos anos 1970 e 1980, com o passado (sim, já pertence à História!) pré-pandémico de Meca turística, fervilhando de gentes e idiomas qual Babel moderna.

É um filme que conduz o narrador deste livro a Lisboa. Um dia, ao vê-lo, ele reconhece o seu pai numa cena filmada numa tasca e parte para a capital portuguesa onde tentará reconstituir os passos desse homem desconhecido.

Essa película de 1982, que inspira a premissa do romance – realizada pelo suíço Alain Tanner e protagonizada por Bruno Ganz e Teresa Madruga – é “Dans la ville blanche”. A história de Paul, que decide abandonar o cargueiro onde trabalhava ao acostar em Lisboa, passando a deambular pela cidade ainda pichada com frases revolucionárias até se apaixonar por Rosa, apesar da mulher, Élisa, que deixara na Suíça.

E, tal como no filme, tal qual Paul nos anos 1980, o narrador leva o leitor consigo, convidando-o à viagem por Lisboa, pela margem sul e pelo Alentejo; levando-o a descobrir tanto essa tão lusitana mistura de moderno e tradicional, de novo e velho, de tolerância humanista e preconceito obsoleto, como o conduzindo à descoberta do “saber viver” português, do seu “modo de ser”, por vezes, para o bem e para o mal, tão nos antípodas do “modo de ser” francês. O leitor segue-lhe os pensamentos e as sensações fragmentadas – mas sem nunca perder o rumo ao enredo – e vai com ele no elétrico 28, e sobe até Saldanha, e atravessa o Tejo até Cacilhas…

Uma personagem em demanda das suas raízes e uma escrita que cria uma atmosfera à qual é difícil resistir. Não se espere um romance de reviravoltas estonteantes ou surpreendentes. Não foi esse o objetivo de Sébastien Rozeaux, que quis escrever um livro tranquilo como o Mar da Palha e luminoso como o sol de Lisboa.

 

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LusoJornal