“Pinhal do Rei” / “Pinède du Roi”: Adeline Grilo escreveu um livro infanto-juvenil sobre os incêndios

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Adeline Grilo acaba de editar o livro “Pinhal do Rei” em português e “Pinède du Roi” em francês, com ilustrações de Gonçalo Dias, nas edições Textiverso. Um livro para crianças, inspirado nos incêndios que destruíram praticamente toda a mata de Leiria em 2017. “A aldeia do meu pai esteve por triz, a sorte foi o vento ter mudado de direção, porque a aldeia teve de ser evacuada” conta a autora recordando imagens que a marcaram para sempre.

Nascida em Colombes, na região de Paris, Adeline Grilo estudou nas Universidades de Nanterre e da Sorbonne, mas depois foi viver 16 anos em Portugal, antes de regressar a Colombes em 2008. Os pais encontraram-se no “bidonville” de Nanterre – o pai vinha da Marinha Grande e a mãe de Sabugal – mas sempre guardaram uma ligação forte a Portugal.

Desde pequena que Adeline Grilo gosta de livros. Lembra-se quando ia de férias à aldeia e passava a biblioteca ambulante da Gulbenkian. Acabou por estudar línguas, nomeadamente alemão, foi tradutora e assistente de direção, mas há muito que tem participado em “ateliers de escrita”.

Foi num destes ateliers que nasceu o livro agora editado. “Foi ao fazer um exercício sobre um incipit – a primeira frase de uma história ou de um livro – e eu precisava de encontrar uma frase que marcasse. Estava eu no metro de Paris, ia para o trabalho, estava a ler um livro sobre florestas do Canadá e veio-me à lembrança os incêndios em 2017 que me afetaram bastante, como certamente afetaram muita gente e veio-me essa frase ‘Deixaram queimar tudo’. Era uma frase de revolta” conta Adeline Grilo ao LusoJornal. “Depois lembrei-me do pinheiro que a minha avó paterna tinha plantado quando nasceu o meu primo, o único que pode transmitir o nosso apelido Grilo. Ela tem 83 anos e plantou essa árvore num dos pinhais, quando nasceu o neto. Eu pensei nesse pinheiro, talvez tivesse ardido ou talvez não”.

A autora imaginou então uma história com um fim feliz “porque eu quero transmitir às crianças o lado positivo da vida. É verdade que há coisas tristes, menos felizes, mas no meio de tudo, há algo de bom e foi isso que eu quis transmitir”.

Foi assim, de um simples exercício numa oficina de escrita que nasceu o primeiro conto. A formadora gostou e uma ilustradora lançou-lhe um desafio: escrever mais 6 contos para publicar numa antologia. Adeline Grilo escreveu efetivamente os outros contos durante as férias em Portugal, com elementos diferentes, mas sempre inspirada nos incêndios, mas nunca mais ouviu falar da proposta de edição!

Lançou então uma procura de um ilustrador, aconselhada pela filha, e encontrou Gonçalo Dias, “uma joia de jovem ilustrador”, com apenas 23 anos, acabado de sair das Belas Artes de Lisboa.

Adeline Grilo partilhou com ele fotografias da região e da família… “Ele não conhecia bem a região de Leiria, então mandei-lhe toda a documentação que eu tinha sobre o Castelo de Leiria, sobre as lendas que havia em Leiria relacionadas, por exemplo, com a rainha Santa Isabel” conta a autora. “Porque os contos afinal têm uma parte de imaginação, mas também têm testemunhos reais durante aquela noite de incêndio, em outubro, que levou 80% da mata de Leiria. Então foi com base nesses testemunhos e nas lendas que as minhas avós me contavam, que o Gonçalo Dias fez as ilustrações”.

Com o livro preparado começou uma “peregrinação” pelas Câmaras municipais. “Foras elas que me deram ânimo” diz ao LusoJornal. Porque começaram a surgir encomendas da Câmara de Leiria, da Marinha Grande, do Sabugal… “A Câmara do Sabugal comprou livros para oferecer a todas as crianças do primeiro ciclo no concelho. Entregaram no Dia mundial do ambiente” recorda.

A Diretora da Biblioteca da Marinha Grande estabeleceu o contacto com a editora Textiverso que aceitou, imediatamente, editar as duas versões do livro.

Para além das Câmaras municipais, o livro está à venda em quatro lojas da Fnac em Portugal, duas em Lisboa, uma em Leiria e outra em Coimbra, assim como no site internet da Fnac. Em França, a situação é diferente. “Aqui em França, como sou eu que trato da promoção, as coisas vão mais devagar”, mas já está à venda na livraria Les Sauterelles, em Colombes, e na Livraria portuguesa e brasileira de Paris.

Demasiado ocupada com a promoção do livro, Adeline Grilo não pensou ainda em novas versões dos contos, noutras línguas, como por exemplo em alemão, por ser a sua primeira língua estrangeira estudada na escola. “Afinal de contas, as questões ecológicas e dos incêndios, afetam todo o mundo, não apenas Portugal e a França, mas até a Austrália e os Estados Unidos”.

Mas para já, aproveita viagens a Portugal para fazer intervenções em escolas e gostava de também o fazer em França. “Eu gosto do contacto com as crianças e o meu público preferido situa-se entre os 8 e os 12 anos. E é neste registo que quero continuar a escrever”.

“Pinhal do Rei” não é o primeiro livro de Adeline Grilo. “Houve um primeiro livro, que ainda não está acabado, porque este acabou, por força da atualidade, por passar à frente” explica ao LusoJornal. “Tenho de o acabar porque a minha mãe pergunta-me ‘então quando é que sai?’. Na verdade, esta coletânea de contos tem lugar na terra do meu pai, mas o primeiro livro que comecei a escrever passa-se na aldeia da minha mãe, então ela está em pulgas, à espera” diz a sorrir.

 

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