Publicamos hoje no LusoJornal, o primeiro poema de um dos muitos milhares de poetas que Portugal possui. Uma grande maioria nunca foram publicados. Milhares de poemas foram escritos muitas vezes para eles mesmos, familiares ou amigos.
Poemas testemunho de um ser, de um estado de espírito, por vezes… de um aliviar.
José Couto Alves Grenha faz parte desses milhares de poetas anonimos.
Copiou para um caderno, grande parte da sua obra poética ao longo de 50 anos. Por amizade ofereceu o caderno a seu amigo António Marrucho.
José Couto Alves Grenha começou a escrever no seu tempo de tropa em Angola em 1968, imigrou para França depois daqueles anos passados no ultramar. Viveu grande parte da sua vida na região de Lille onde exerceu vários ofícios, alguns em postos de resposabilidade. É pai de dois filhos e vive atualmente perto de Chantilly.
É com autorização de José Grenha que publicamos hoje um primeiro poema que data de 23 agosto de 2005.
De mim para ti meu país
Viver é sofrer
Viver é sentir um tal sofrimento
que por vezes nem direito temos
a um lamento
E eu vivendo a sofrer.
Tento esquecer
as minhas máguas
a escrever.
Escrevo o meu destino
que tem sido amargurado
Vivo escrevendo
aquela vida que gostaria de ter tido
mas que passou a meu lado.
Poderia ter sido
aquilo que sempre sonhei
mas preferi continuar a ser aquilo que sou
A amar como amei.
Se fui amado, não sei.
Só posso dizer
que sou aquilo que sou.
Não recebi
mas tudo dei, e tudo dou.
E assim vou vivendo a vida
amando
Pois sou eu mesmo,
embora me destrua caminhando.
Para que o amor
seja mais profundo
e a vida tenha mais valor
temos que correr mundo.
Estar longe do país que amamos
aí sim, é amor profundo
que sentimos por vezes
no nosso coração ferido
pela indiferença
mas o nosso amor é tão grande
que choramos
pois a saudade é imensa.
Saudade, saudade é tristeza
é sentir o coração a fraquejar
é o querer receber
mas só poder dar.
Saudade és tu meu país
que já não me lembro ver-te.
É verdade
que devido à saudade
já tentei esquecer-te
mas não consigo
embora tu meu país querido
tentes esquecer-me
mas eu, sim eu, trago-te
sempre comigo.
Tu és aquilo que eu gostaria de ser
Tu és nobre, és valente,
tu és a cobiça de muita gente
porque a tua pobreza
faz com que sejas tão nobre
que os outros com a sua riqueza
têm ciumes da tua pobreza
e até gostariam de ser pobres.
Já faz três anos que te não vejo.
Sei que neste momento sofres
com as queimaduras
mas tu és demasiado nobre
para cair de joelhos
à frente daqueles
que te querem ver mais pobres.
Eu sei que vais resistir
pois tu sendo pequeno
és demasiado grande e nobre.
Tu tens aquilo que os outros não têm
a tua nobreza.
E isso meu querido país
vale mais que a maior riqueza.
Continua a ser aquilo que és
que a tua riqueza
que é a pobreza
seja mais rica
dando-te uma tal nobreza
que a fartura dos outros
passa a ser uma pobreza.
E vou prometer-te
que se um dia for aí ver-te
fazer-te-ei um poema
como nunca fiz.
A tinta serão as lágrimas de meus olhos
O papel, bocadinhos do coração
E o tema: Amor aos molhos.
Escreverei sobre ti
direi ao mundo, o quanto és lindo
e que mesmo estando longe
Sinto por ti um amor profundo.
José Couto Alves Grenha
23/08/2005