Policial de Pedro Garcia Rosado foi editado pela Chandeigne em francês

O primeiro policial das edições Chandeigne, «Mort sur le Tage», de Pedro Garcia Rosado, foi editado recentemente em Paris.

Pedro Garcia Rosado nasceu em Lisboa, em 1955, é autor de uma dezena de romances policiais, alguns dos quais inspirados de grandes processos que marcam a sociedade portuguesa atual.

 

Como surgiu a oportunidade de traduzir o Ulianov e o Diabo?

Foi uma proposta da editora Chandeigne que eu aceitei de imediato e fiquei muito satisfeito porque todos os autores gostam de levar o mais longe possível as suas histórias e neste caso particular para um país que tem uma cultura muito rica e onde o polar tem um papel de destaque que é considerado como literatura.

 

Qual é a aceitação fora de Portugal?

Espero que tenha uma boa aceitação. É uma visão diferente de Lisboa e de Portugal, que neste momento está na moda, neste caso é uma visão diferente da realidade portuguesa mas também de locais importantes de Lisboa.

 

Como é que está a encarar o facto deste livro ter uma nova vida fora de Portugal? É a segunda vez que tem um livro traduzido numa língua estrangeira, após o espanhol.

Fico muito contente, porque permite mostrar que em Portugal há outro tipo de literatura. Há outros autores, há outro tipo de literatura que não está conforme aos estereótipos da literatura mais bem aceite e mais bem considerada em termos intelectuais. É uma literatura policial digna, com autores de grande qualidade em todo o mundo, em Portugal é mal conhecida, a literatura policial é diminuta e mal conhecida fora de Portugal. Espero que possa haver um maior interesse por parte do público francês.

 

Também traduziu cerca de 50 livros. Aproximou-se da tradutora Myriam Benarroch para trabalhar com ela ou deixou-lhe carta branca?

Como tradutor, respeito os meus colegas que são profissionais. Eu traduzo do inglês, do francês ou do alemão, mas não traduzo do português para outras línguas porque não as domino na sua integralidade, portanto a tradutora de ‘Mort sur le Taje’ trabalhou de modo autónomo e bem. Fez-me algumas perguntas de esclarecimento no fim como eu já fiz a autores e eu respondi, tem obviamente toda a minha confiança e tenho todo o gosto que isso possa acontecer.

 

Vamos falar das personagens. Há duas centrais, o Unlianov e o Diabo. Como é que construiu estas duas personagens?

Nascem de realidades diferentes, mas muito concretas. A primeira no caso de Ulianov, foi da vaga de emigração dos países do Leste para Portugal onde chegaram muitos profissionais, de onde chegaram também militares especializados e suponho eu que assim tomei a liberdade com o agente do KGB. O meu interesse foi pôr num meio diferente, num meio onde há crime do mais banal e mais violento, um homem que veio com valores ideológicos para outra realidade, portanto o Ulianov mantém os seus princípios ideológicos marxistas e leninistas em que foi ensinado e traz essa realidade com ele aceitando por exemplo que pode torturar ou matar porque era assim que o KGB fazia aos seus inimigos do Estado.

 

E o diabo?

O diabo é um competente desfigurado da guerra de África, que o Estado português ali manteve, um homem também com uma preparação militar que ficou desfigurado pela guerra e que traumatizado, mergulhou no submundo físico, nos subterrâneos de Lisboa, um homem perturbado que ali reina entre os sem abrigos apaixonando-se depois pela irmã morta de Ulianov.

 

‘Morte sobre o Tejo’ abre-se com uma agressão de Maria João, uma jovem da elite da sociedade lisboeta, e ao chegar aos dias de hoje, a Irina, encontrada morta após uma agressão. Porque é que foi buscar personagens russas no meio de uma Lisboa quase feia?

São realidades que se cruzam. Uma das realidades da literatura é poder alterar a realidade tal como a vemos, introduzir fatores de perturbação na realidade, portanto aqui foi a possibilidade de fazer cruzar apenas por uma questão geográfica, o Cais do Sodré, a vinda dos Russos é uma realidade, a vida dos sem abrigo é outra realidade, há uma outra realidade menos conhecida, que transformei para a ficção que foi o caso real de um empresário importante que teve dois filhos que fizeram aquilo enquanto jovens e que depois não conseguiram fazer uma vida empresarial normal. E portanto eu aproveitei nessa malha coisas que não se vêm na comunicação social, na televisão, na imprensa, para mostrar uma Lisboa de certo modo subterrânea. E ela existe.

 

 

LusoJornal