Portugueses que participaram na II Guerra Mundial: 25 de abril, Dia dos Deportados

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Portugal não participou na II Guerra Mundial, contudo Portugueses houve que participaram, alguns mesmo acabaram por ser deportados e falecer no combate ou em campos de concentração.

Uma das equipas que pesquisa sobre este tema é dirigida por Fernando Rosas. O tema é relativamente novo. Os dados numéricos sobre a participação portuguesa nesta guerra atualmente conhecidos, estão com certeza aquém da realidade.

Avança-se o número de cerca de 500 Portugueses que foram submetidos a trabalhos forçados pelos Nazis, e pelo menos 70 estiveram em campos de concentração. Destes, 53 terão falecido antes do fim da II Guerra Mundial.

Através de dados que pudemos consultar no site “Mémoire des Hommes” (1), obtivemos um certo número de informações estatísticas: nomes, locais de nascimento e de falecimento…

Eis algumas informações que ali recolhemos sobre os Portugueses que estiveram ligados à II Guerra Mundial:

Entre os voluntários estrangeiros que se declaram entre o 1 de setembro e o 26 de junho de 1940, que participaram da II Guerra Mundial, 905 nascidos em Portugal fazem parte da lista (2).

O primeiro da lista chama-se Abílio Domingues, nascido a 17 de fevereiro de 1906. De notar que outros 36 soldados nascidos em Portugal, sem nacionalidade portuguesa, essencialmente francesa, faleceram durante a II Guerra Mundial, filhos por vezes de diplomatas e industriais franceses a residir em Portugal.

Teriam falecido em deportação 46 pessoas nascidas em Portugal (3). Destes 46, sabemos onde faleceram 34: 19 na Alemanha, 7 na Áustria, 5 na Polónia e 3 em França. Entre estes, 4 faleceram em Auschwitz (Polónia), 2 irmãos em Gussen (Áustria) e 2 em Mauthausen (Áustria). Os outros 26 faleceram em Campos diferentes.

Dos 46 Portugueses falecidos em deportação que conhecemos, as idades vão de 20 anos e 9 meses a 58 anos e 5 meses, 5 tinham entre 20 e 29 anos, 10 entre 30 e 39 anos, 7 entre 40 e 49 anos e 7 entre 50 e 59 anos. A estes devemos juntar uma criança, a única entre os deportados de que conhecemos a idade, trata-se de Henri Tesles (Teles?), nascido em Lisboa e falecida em Auschwitz com a idade de 10 anos dois meses e 26 dias.

Algo que nos marcou nas nossas pesquisas foi o facto de José Percira (Pereira?) dos Santos, nascido em Vila do Conde, ter falecido exatamente no dia dos seus 50 anos, a 27 de fevereiro de 1944, em Ehrenferst, na Alemanha.

Conhecemos as datas de falecimento de 32 dos 46: 1 faleceu em 1940, 4 em 1941, 1 em 1942, 6 em 1943, 15 em 1944 e 5 em 1945. O último a falecer foi José Guerreiro, nascido a 25 de novembro de 1907, em Loulé e falecido a 08 de maio de 1945, em Viena (Áustria) com 37 anos, 5 meses e 13 dias.

Numa outra lista (4) encontramos 21 mortos em deportação nascidos em Portugal. Nesta lista, 5 não fazem parte da primeira lista de 46 acima indicada, o que nos permite contabilizar 51 portugueses falecidos em deportação.

 

Resistentes nascidos em Portugal

Outro dado interessante de conhecer é o número de resistentes nascidos em Portugal. Nesta lista temos 349 nomes (5). O primeiro, por ordem alfabética, chama-se Albano Santos, nasceu a 12 de fevereiro de 1889, em Lisboa, fez residência na Forces Françaises de l’Intérieur (FFI). O último da lista chamava-se Leonidas Waldemas (Waldemar?) nascido a 28 de janeiro de 1912, em Lisboa.

Nestes 349, temos 11 resistentes de sexo feminino. Destas 11 mulheres, não pudemos determinar a que forças estavam ligadas 6 de entre elas. Das restantes, duas estavam ligadas à Forces Françaises Combattants (FFC), uma à Forces Française Intérieur(FFI), uma à Force Française Libre (FFL) e uma ao Front National.

Entre os 349 resistentes, 7, todos homens, foram deportados e 11 foram internados, todos igualmente homens.

Entre os resistentes nascidos em Portugal, 9 foram medalhados.

Notemos que 87 militares nascidos em Portugal, ao serviço da França durante a II Guerra Mundial, faleceram no decurso da guerra (6). A estes, honras são feitas com a frase «Mort pour la France». O primeiro soldado nesta lista, Manuel Afonso, nasceu a 12 de maio de 1900 e faleceu com 40 anos e 15 dias, no dia 27 de maio de 1940, em Bergues, departamento do Norte de França. Fazia parte do 270ème Régiment d’Infanterie (270e RI). O último na lista, Salvador Vieira, morreu pela França em combate, fazia parte das FFI.

De notar que os dados que aqui fornecemos estarão provavelmente minorados a todos os níveis, dado não contabilizarmos os soldados, resistentes, deportados, nascidos em França de pai ou pais portugueses.

Outro tipo de pesquisa seria de todo o interesse realizar, seria de saber onde estão sepultados os portugueses que faleceram durante a II Guerra Mundial.

Já na I Guerra Mundial portugueses participaram como Legionários, destes, treze deles faleceram em França durante a Guerra, conhecem-se 4 sepulturas situadas em França (7).

 

Os quatro “Justos” portugueses

Para terminar, notemos que 27.362 pessoas foram consideradas “Juste parmi les nations” (8). Destes, quatro possuem nacionalidade portuguesa. O mais conhecido é Aristides de Sousa Mendes, Cônsul de Portugal em Bordeaux, reconhecido “Justo” em outubro de 1966. O Cônsul de Bordeaux foi a pessoa que terá salvo mais judeus durante o Holocausto.

Carlos Sampaio Garrido, Embaixador de Portugal em Budapeste, na Hungria, entre 1939 e 1944, hospedou dezenas de cidadãos húngaros, muitos deles judeus, entre os quais a secretária judia Magda Gabor e a família. Em abril de 1944, Salazar mandou regressar o Embaixador. Mas apenas cinco dias depois, a polícia húngara invadiu a sua casa. Quando o Embaixador viu que estavam a levar Magda, pôs o pé na porta e não os deixou sair. Apesar da resistência, foram presos, tanto o Embaixador como as pessoas que ele protegia. Carlos Garrido Sampaio foi reconhecido “Justo entre as Nações” em 2 de fevereiro de 2010.

Joseph e Marie-Louise Brito Mendes viviam em Saint Ouen, França. José tinha chegado a Paris nos anos 1920. Trabalhava na construção civil, estava casado com Marie-Louise, de nacionalidade francesa. Em 1943, a casa da família luso-francesa foi revistada pela polícia em busca de judeus escondidos. Joseph e Marie-Louise protegiam Cécile, filha de judeus polacos. José e Marie-Claire quiseram adotar a menina, os pais falecidos em deportação, mas um tio, regressado dos campos de concentração, ganhou o processo em tribunal e ficou com ela. Joseph e Marie-Louise Brito Mendes foram reconhecidos “Justos entre as Nações” em janeiro de 2004.

Entre os “Justos entre as Nações” portugueses há também um padre: Joaquim Carreira. Joaquim Carreira foi reitor interino e reitor do Colégio Português de Roma durante a II Guerra Mundial. Em setembro de 1943, Roma é ocupada pelas tropas nazis e a perseguição a todos os opositores ao nazismo endurece. Várias dezenas de pessoas procuram refúgio no Colégio Português de Roma. O número de pessoas salvas pelo Padre Carreira é uma incógnita. Mais de 100, mulheres e crianças, teriam sido levadas para a Igreja de Santo António dos Portugueses. Estimativas vão de 100 a 200 pessoas que o Padre Joaquim Carreira terá salvo. Foi considerado “Justo entre as Nações” em setembro de 2004.

 

Neste domingo, dia 25 de abril, lembremo-nos também de todos os portugueses que, de uma forma ou outra, participaram na II Guerra Mundial, como soldados, como legionários, como resistentes, como deportados, como falecidos…

 

 

Notas:

(1) https://www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/

 

(2) https://www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/fr/arkotheque/client/mdh/engages_volontaires_etrangers/resus_rech.php?&debut=280

 

(3) https://www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/fr/arkotheque/client/mdh/base_morts_deportation_39_45/resus_rech.php

 

(4) https://www.lesmortsdanslescamps.com/monde.htmfl

 

(5) https://www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/fr/arkotheque/client/mdh/base_resistants/resus_rech.php

 

(6) https://www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/fr/arkotheque/client/mdh/militaires_decedes_seconde_guerre_mondiale/resus_rech.php

 

(7) https://lusojornal.com/les-soldats-portugais-au-service-de-la-france-morts-pendant-la-i-guerre-mondiale-et-honores-avec-la-mention-mort-pour-la-france/

 

(8) Israel dá-se como obrigação ética de reconhecer, honrar e saudar, em nome do povo judeu, os não judeus que, apesar dos grandes riscos para si próprios e para os seus entes queridos, ajudaram os judeus no momento em que mais precisavam.

 

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