Rancho de Cantadores de Paris editou um “álbum-collector’ de Cante alentejano

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O Rancho de Cantadores de Paris lançou em novembro de 2020 o “álbum-collector” “Alentejo Ensemble”. Mais do que um disco de cantares alentejanos, com 19 temas musicais e uma duração de 70 minutos, é também um livro com 158 páginas, muitas fotografias e ilustrações.

“Este CD é um convite da Câmara Municipal de Serpa para fazer um disco de cantares alentejanos a partir de Paris, com este grupo de várias nacionalidades” explicou Carlos Balbino, o diretor artístico do grupo.

Carlos Balbino criou a “Compagnie des Rêves Lucides” e em 2017 montou a peça “La dernière corrida” para a qual decidiu que os atores deviam cantar temas alentejanos. As duas atrizes cantaram cante alentejano na peça, sem saber falar português.

E foi assim que tudo começou. A convite de Carlos Semedo, da Mairie de Aubervilliers, fizeram a abertura do concerto de Kátia Guerreiro e Ricardo Ribeiro. “Todos achámos que era engraçado estarmos reunidos só para cantar. Então decidimos criar o grupo de Cantadores de Paris” conta o encenador.

Depois, tudo se encadeou: o realizador Tiago Pereira descobriu-os, veio a Paris para os filmar, a Câmara Municipal de Serpa convidou-os para gravarem um disco, o grupo foi a Portugal, Tiago Pereira seguiu-os e realizou um documentário sobre o grupo que acabou por ser programado no festival DocLisboa.

A viagem do grupo a Portugal “foi espetacular”. “Este grupo de franceses a cantar música portuguesa… foi muito interessante de termos gente com grande experiência de cante, a explicar em português como é que se devia cantar, a pessoas que não percebiam nada. Foi uma experiência muito engraçada” explica Carlos Balbino ao LusoJornal.

A multiculturalidade do grupo é um detalhe importante. “Somos uma escola de cantares alentejanos. Todos os anos, no mês de setembro, lançamos um anúncio para recrutar novos cantores. Cada um paga uma adesão simbólica e vem cantar” explica Carlos Balbino. “São parisienses, são pessoas de várias origens, vêm da Rússia, franceses de pais argelinos, uns vêm da Itália mas os pais são do Congo, franceses da Champagne, dos Pyrénées, mas também há portugueses nascidos em França”. É esta mistura de pessoas, de culturas, de gente que vem dos mais variados meios socioprofissionais, que interessa Carlos Barbino e que é a essência mesmo do projeto.

“Antes de tudo somos uma associação de criações multidisciplinares. Começámos pelo teatro e criámos esta história de cante alentejano, temos oficinas de pintura criativa, temos várias atividades, produzimos um filme com o Tiago Pereira, produzimos este disco” lembra ao LusoJornal.

Mesmo durante o confinamento o grupo tem ensaiado porque tem o estatuto de grupo “profissional”. Encontram-se regularmente, à noite, nas instalações de uma associação em Paris 19, perto do metro Ourcq. “Temos mantido os ensaios desde setembro. Como somos uma associação profissional, temos autorização de poder ensaiar e por isso continuamos a preparar o nosso espetáculo e a nossa futura digressão de lançamento do disco.

Sempre a convite da Câmara Municipal de Serpa, o grupo integrou, em novembro, a programação virtual do festival Cante Serpa, ainda conseguiu fazer três concertos em março, antes do primeiro confinamento, houve uma apresentação oficial no dia 4 de março, no Consulado Geral de Portugal em Paris, na presença do Embaixador de Portugal junto da Unesco, António Sampaio da Nóvoa, e a venda do disco está a ser feita via internet. O objetivo continua a ser o de voltar ao Alentejo para encontrar cada um dos grupos com quem trabalhámos, “celebrando com eles a saída do disco”.

É uma dívida que Carlos Balbino tem para com estes grupos. Foram grupos que descobriram primeiro pela internet e com quem trabalharam mais tarde. “É uma espécie de intercâmbio. Eles aceitaram entrar em estúdio connosco, para nós destruirmos aquilo que eles construíram durante anos (risos) e para nós é um grande orgulho cantar com estas grandes referências do cante alentejano atual”.

O prefácio do livro é de Salwa El-Shawan Castelo Branco, Fundadora e Diretora do Instituto de Etnomusicologia – Centro de estudos em música e dança sediado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Foi ela que inspirou Carlos Balbino a seguir uma formação em Etnomusicologia. “Quando eu comecei a dirigir este grupo, fiz isto por instinto. Já tinha dirigido atores em espetáculos de teatro, já tinha dirigido um espetáculo de canto polifónico russo, mas quando cheguei à terceira produção, achei que tinha de me formar” explica ao LusoJornal. Fez uma Licenciatura em Antropologia e está agora a concluir um Mestrado sobre o cante espontâneo e o cante na sua forma informal.

Agora tem passado mais tempo em Portugal, no Alentejo. Já perdeu praticamente o sotaque de Cascais, que tinha quando chegou a Paris, e apresenta-se com uma pronúncia mais rural.

Esta última estadia em Cuba, no Alentejo, passou-a com a noiva, a artista Russa Anna Turtsina, que desenhou as ilustrações do disco, inspirada pelas gentes e pelas paisagens alentejanas e que também canta. “Depois de um estágio intensivo nas tabernas alentejanas, ela vem de lá a falar melhor português do que eu” diz, a sorrir, Carlos Balbino.

Mas mais do que um “grupo” de cantares alentejanos, os Cantadores de Paris são um Rancho. “Inicialmente, como não sabíamos, para nós isso não tinha qualquer significado. Mas um Rancho é uma escola de Cante. Temos essa grande responsabilidade de sermos uma escola de Cante aqui em Paris”. O “título” foi-lhes atribuído pelo Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento.

Mais do que um simples disco, este álbum é uma obra de arte, é uma desmistificação do Cante alentejano, nas suas mais diversas variantes e é o coroar de um projeto fabuloso que nasceu nos sonhos de Carlos Balbino.

 

www.reveslucides.org

 

Ver a entrevista completa AQUI.

 

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