Saúde: Andropausa, mito ou realidade?


As alterações hormonais que afetam o homem e a sua sexualidade ao longo do envelhecimento do tabu no tópico atual, sendo vulgarmente referidas como andropausa. Mas será que tal realmente existe?

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O que é a Andropausa

Andropausa é um termo incorreto, uma vez que faz um paralelismo com a menopausa, fenômeno natural que ocorre em todas as mulheres, num período previsível da vida e que acarreta um declínio acentuado nos níveis hormonais e no fim do seu período fértil.

Nos homens saudáveis tal não acontece, sendo a redução dos níveis de testosterona, o principal hormônio masculino, de apenas cerca de 1% por ano, pelo que a idade por si só não é suficiente para explicar uma “andropausa”.

Vários outros fatores têm um peso preponderante para esta condição, corretamente designado por hipogonadismo de início tardio, que correspondem a um déficit de testosterona controladamente comprovado e que condiciona vários sinais e sintomas, que afetam diversos aspetos da saúde do homem.

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Outros fatores que contribuem para o déficit de testosterona

A obesidade, diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial são doenças comuns que interferem na produção e manutenção dos níveis de testosterona, agravando significativamente o declínio fisiológico que acompanha a idade, uma vez que também são mais prevalentes com o envelhecimento.

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Sintomas

Os sintomas mais facilmente associados ao déficit de testosterona são a diminuição do desejo sexual, da frequência de ereções espontâneas ou matinais e da disfunção erétil, acarretando uma redução global da atividade sexual. Porém esse hormônio é fundamental para outros níveis, podendo a sua redução causar também sensação de fadiga, com perda da massa muscular, da força e rentabilidade física, aumento da gordura corporal, alterações do humor com irritabilidade e sintomas depressivos, perturbações do sono e da memória com dificuldades de concentração, e perda da pilosidade corporal.

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Diagnóstico

Além da avaliação dos sinais e sintomas já mencionados, o hipogonadismo de início tardio deve ser confirmado pela dosagem de testosterona no sangue, em pelo menos duas análises matinais. A avaliação laboratorial deve incluir também a glicose e os lípidos no sangue, para exclusão de fatores de risco acima mencionados, assim como o doseamento do PSA, o qual em conjunto com o toque rectal permite avaliar a patologia como o cancro de próstata, antes do tratamento com reposição hormonal.

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Tratamento

Uma vez que a redução da testosterona tem múltiplas causas, também o tratamento deverá ser direcionado a cada um dos fatores identificados.

Quando os níveis deste hormônio são comprovadamente inferiores ao normal, pode haver sua prescrição sob diversas formas, nomeadamente injeções intramusculares ou gel de aplicação cutânea.

É fundamental obter e manter o peso ideal através da dieta e exercício físico regular, o que também tem a vantagem de promover o ganho de massa muscular e perda de gordura, assim como o controle adequado da diabetes e hipertensão arterial.

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Melhorar o desempenho sexual

A disfunção erétil que surge nos homens após os 50 anos é multifatorial e nem sempre acompanhada por um déficit comprovado de testosterona. É necessário identificar e corrigir os fatores de risco para esta doença, que são comuns às doenças cardiovasculares: obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, sedentarismo e tabagismo. Para tal é necessária uma mudança verdadeira no estilo de vida que se deve manter. A par destas medidas, a terapêutica farmacológica é amplamente difundida e deve ser recomendada após avaliação pelo médico urologista.

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Dra. Vanessa Vilas Boas

Urologista / andrologista

Hospital Cruz Vermelha, em Lisboa