Saúde: Burnout ou exautão total


O Burnout é um estado de exaustão física, emocional e mental causado por stress prolongado e excessivo, muitas vezes relacionado com o nosso local de trabalho mas (importa dizer) não só – podemos ter o Burnout da dona de casa que vive numa rotina que nunca tem fim sem um único momento para si, o Burnout dos pais que se desdobram para dar tudo e, muitas vezes, se esquecem de quem são, o Burnout dos cuidadores que acompanham familiares doentes com uma imensa dedicação mas também uma exaustão que se vai instalando com uma enorme culpa mas que não partilham.

Todos estes tipos de Burnout também são reais mas não falamos tanto sobre eles.

As pessoas entram com um ar cansado, depois de fecharem apressadamente o portátil ou enviarem uma última mensagem antes de entrarem na consulta.

Na consulta ouvem-se as queixas em tom de desabafo. “Não sei o que se passa comigo” ou “Sinto-me constantemente esgotado, não importa quanto durma”. Explicam “-Quero parar, mas não posso, no meu caso não dá mesmo”.

A falta de entusiasmo, a sensação de sobrecarga e a dificuldade em raciocinar são algumas das principais queixas que incomodam quem vem a consulta. Estão sempre a trabalhar mas já não conseguem concluir tarefas porque a cabeça deixou de funcionar. “Ou então já não sou bom naquilo que faço”. Irritam-se também mais facilmente com os colegas e com as pessoas em casa. E o sono? O sono está mal. E por isso, e porque há mesmo muito trabalho, não há tempo para mais nada – para o ginásio, para correr, para estar com os amigos, para levar o filho as consultas. A angústia e a preocupação são o ponto em comum.

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As causas mais comuns do Burnout

O correr de um lado para outro acompanha o nosso dia-a-dia. A exigência no trabalho, o prémio para o melhor, mais produtivo, mais do que para o mais capaz. Deixámos de ter funções completamente rígidas dentro das organizações, sendo cada vez mais pedido aos profissionais que desempenhem funções transversais a várias áreas da empresa.

O trabalho acompanha-nos para todo o lado – está connosco no sofá ao fim do dia, interrompe o jantar “Esta chamada tenho mesmo que atender”, enche-nos os pensamentos na hora de dormir, vai connosco de férias.

E fora do trabalho aquilo que salta à vista é a enorme sobrecarga de papéis que nos é exigida. Vivemos num mundo que não para e temos que estar no nosso melhor em todas as frentes. A mulher, por exemplo, tem que ser a mãe perfeita, a esposa que está lá presente, a dona de casa, a mulher ideal e idealizada, a profissional dedicada e independente e não se esquecer de manter uma vida social ativa. Há tanto para fazer e tão pouco tempo. Não há pausas. Mesmo nos momentos de descanso, há tarefas por fazer e listas por cumprir. Importa fazer, fazer, fazer. E no meio de tudo isto? Fica a sensação de culpa por falhar (sempre) em um ou vários campos.

O Burnout não discrimina. Podemos falar em fatores de risco. Mas mais do que isso importa dizer que, na realidade, não importa o cargo, não importa o carácter, não importa o “isso a mim não me acontece”. Quando não reconhecemos os sinais de alerta e não conseguimos gerir o equilíbrio entre o que conseguimos dar e o que podemos dar, os sintomas surgem. E quando os sintomas surgem, a ajuda é necessária. A boa notícia? A ajuda existe. Nunca foi tão importante cuidar do nosso bem-estar físico e mental e saber dizer “não”. Saber qual o momento para parar é crucial.

Não temos que ter medo da palavra stress ou da palavra ansiedade. O stress existe e pode ser positivo – um prazo apertado, uma semana mais exigente, uma reunião com o chefe – faz-nos correr atrás das coisas. A ansiedade é uma emoção “normal”, motiva-nos e faz-nos aumentar o foco.

Então quando é que uma emoção “normal” passa a ser doença? Quando está sempre lá, é muito intensa, surge sem motivo e causa-nos sofrimento. De repente, o aumento de stress já não está a ajudar nada e a produtividade? Cai a pique.

O Burnout tem uma marca registada. É aquele doente que me garante que “agora não posso parar”. Que acredita genuinamente que, trabalhando numa multinacional, se amanhã não for ao emprego a empresa fecha. Este é o ponto sem retorno.

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Dra. Maria Moreno

Médica psiquiatra na Cognilab e na Fisiogaspar