Saúde: O que é o envelhecimento?


De acordo com a Organização mundial da Saúde (OMS) o Envelhecimento individual é um processo condicionado por fatores biológicos, sociais, económicos, culturais, ambientais e históricos, podendo ser definido como um processo progressivo de mudança biopsicossocial da pessoa durante todo o ciclo de vida.

Para a Direção geral da Saúde (DGS) o envelhecimento consiste num processo de deterioração endógena e irreversível das capacidades funcionais do organismo.

É sim, um processo biológico, associado ao acúmulo de danos moleculares e celulares. Com o tempo, esse dano leva a uma perda gradual nas reservas fisiológicas com consequente aumento do risco de contrair diversas doenças e um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo, que em última instância pode levar a morte. Além das perdas biológicas, muitas vezes há perdas de relações próximas e essas mudanças incluem mudanças nos papéis e posições sociais.

No mundo, cerca de 23% da carga global da doença é atribuível a condições que afetam pessoas com 60 ou mais anos. As principais condições que contribuem para esta excessiva carga global da doença são as doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, as neoplasias malignas, as doenças respiratórias crónicas, as doenças musculosqueléticas (como a artrose e a osteoporose), os acidentes vasculares cerebrais e a diabetes, os distúrbios neurológicos e mentais, como a demência e a depressão. A multimorbilidade (risco de sofrer de várias doenças crónicas ao mesmo tempo) e a polimedicação são encaradas como um dos principais problemas relacionados com a toma de medicamentos por pessoas idosas, resultando, das múltiplas comorbilidades presentes.

As doenças crónicas não transmissíveis são responsáveis por 88% dos anos de vida vividos com incapacidades em Portugal.

Viver mais pode também significar estar mais exposto a riscos, como a vulnerabilidade do estado de saúde, o isolamento social e a solidão, a dependência física, mental e também económica, a estigmatização e os abusos, quer físicos, quer psicológicos, sexuais, financeiros ou materiais, por discriminação, ou por negligência.

Surge assim o conceito de idadismo como forma de discriminação, assentes em construções sociais que associam o envelhecimento à incapacidade e dependência.

O idadismo surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos, desvantagens e injustiças, e para arruinar a solidariedade entre as gerações. O idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade delas. O idadismo pode ser institucional, interpessoal ou contra si próprio. Para pessoas idosas, o idadismo está associado a uma menor expectativa de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta de incapacidade e declínio cognitivo. O idadismo piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta seu isolamento social e sua solidão, restringe sua capacidade de expressar sua sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso.

O idadismo prejudica a nossa saúde e o nosso bem-estar e é uma grande barreira para que sejam adotadas medidas que promovem o envelhecimento saudável, conforme reconhecem os Estados Membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Estratégia e plano de ação global sobre envelhecimento e saúde e na Década do Envelhecimento Saudável: 2020-2030.

Essa complexidade nos estados funcional e de saúde apresentada por pessoas mais velhas levanta questões fundamentais sobre o que significa saúde em idade mais avançada, como a medimos e como podemos promovê-la. São necessários novos conceitos definidos não apenas pela presença ou ausência de doença, mas em termos do impacto que essas têm sobre o funcionamento e o bem-estar da uma pessoa, relembrando que em 1947 a OMS definiu Saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.

A qualidade de vida é, claramente, a tónica dominante do envelhecimento ativo, podendo esta ser definida como a perceção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto cultural e de valores no qual vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Envelhecimento ativo é definido como o processo de otimização das oportunidades para a saúde e refere-se à participação contínua na vida social, económica, cultural, espiritual e cívica, ou seja, vai muito além da possibilidade de ser física e profissionalmente ativo.

As três componentes fundamentais no conceito de qualidade de vida nas pessoas idosas são o bem-estar financeiro, a saúde e a integração social.

Por sua vez, o conceito de “envelhecimento saudável” refere-se ao processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional (interação das capacidades físicas e mentais com o meio) que contribui para o bem-estar e para a qualidade de vida das pessoas idosas. O objetivo principal é o bem-estar, um conceito que contempla todos os elementos e componentes da vida valorizados pela pessoa.

Embora parte da diversidade observada na forma como envelhecemos deve se a nossa herança genética, a maior parte dela surge dos ambientes físicos e sociais que habitamos. Esses ambientes incluem o nosso lar, a nossa vizinhança, a nossa comunidade, a forma como nos alimentamos, a forma como dormimos, a forma como pensamos e gerimos o stress do dia a dia, se praticamos ou não exercício físico, se modulamos ou não o nosso sistema imunitário e as nossas hormonas.

A saúde é sem dúvida um dos elementos mais valorizados no bem-estar da pessoa idosa. A saúde precária e os declínios na capacidade física e mental não precisam dominar o envelhecimento. A maioria dos problemas de saúde enfrentados por pessoas mais velhas podem ser prevenidas ou retardadas envolvendo-se em comportamentos saudáveis e controlados de maneira eficaz, principalmente se forem detetados precocemente.

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Dra. Andreia Monteiro

Especialista em Imunohemoterapia, Medicina Preventiva e Medicina Estética

Clínica Pilares da Saúde