Saúde: Porque existe obesidade?

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Muitos se questionam porque existe a obesidade? A resposta vem muito de trás: ao passo que hoje a acumulação de gordura em excesso é prejudicial, houve uma altura que esta característica ditava a sobrevivência de muitos. É que, há milhões de anos, ninguém sabia o que era sedentarismo ou imaginava a disponibilidade de alimentos que estaria por nascer.

Isto tem que ver com a nossa evolução ao longo de milhões de anos. Foram selecionados aqueles que, entre nós, conseguiam acumular energia quando esta estava disponível. Só que, nesta altura, durante muitos anos, tínhamos alimentos de forma irregular e escassa.

Mas isso mudou. De forma muito acelerada, passámos a ter alimentos sempre disponíveis – alimentos de alto valor energético, como não existiam no passado. Por outro lado, temos um tipo de atividade, de trabalho e de estilo de vida em que não gastamos naturalmente tanta energia como antigamente.

A conta é simples: ingerimos mais energia e gastamos menos. Gera-se com isto um desequilíbrio – e o que era uma vantagem, tornou-se numa desvantagem, que explica que, por exemplo, em Portugal, quase dois terços da população apresente excesso de peso.

É natural e previsível que as populações estejam cada vez mais pesadas. Devemos encarar isso com alguma naturalidade, no sentido em que isso resulta de uma ainda inadequada adaptação ao mundo moderno. Nós, depois de milhões de anos, a sermos apurados para um conjunto de circunstâncias, vimo-las mudar e temos agora de nos adaptar a elas. Mas uma coisa é encararmos isto com naturalidade, outra é encararmos o fenómeno com bonomia e tolerância. É algo que temos de reconhecer como desfavorável. Não devemos discriminar as pessoas por estarem com peso excessivo – é um desequilíbrio que é normal acontecer nos dias de hoje – mas devemos estar atentos e combater esta situação.

A gordura atenta contra a nossa longevidade. Mas como, em concreto? O que é que nela nos torna menos saudáveis? Como já vimos, a gordura acumulada funciona como uma reserva de energia no nosso corpo. Mas como é que ela interage no nosso organismo? Há duas desvantagens principais capazes de potenciar muitos problemas, sobretudo cardiovasculares e oncológicos.

As células de gordura são responsáveis por um estado pró-inflamatório generalizado no nosso organismo, que interfere de uma forma muito relevante num conjunto de fatores de risco cardiovasculares e até oncológicos.

O que significa ser pró-inflamatório? Significa que a ação de um conjunto de substâncias faz com que o organismo esteja sempre alerta contra um agressor. Facilita eventos cardiovasculares, incluindo pró-trombóticos. E as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo ocidental.

Além disso, estes depósitos de gordura facilitam também a acumulação de alguns tóxicos, nomeadamente de produtos carcinogénicos. Estas substâncias vêm de tudo o que existe no meio ambiente. Todos contactamos com ela, mas ficam acumuladas de forma mais evidente no tecido adiposo, ou seja, nas reservas de gordura.

Há múltiplas neoplasias – mais concretamente e de uma forma comprovada, 13 neoplasias – associadas ao excesso de peso, nomeadamente o cancro da próstata, o cancro da mama, o cancro do endométrio, o cancro do cólon e o cancro do rim.

Além disto, cada vez mais se associa a obesidade ao síndrome metabólico, que, além do risco cardiovascular e risco de insulino-dependência, aumenta também o risco de apneia de sono – tendo como consequência um sono não reparador e o aumento do risco cardiovascular.

Quando é que o excesso de gordura é perigoso?

Sobre a deposição de gordura, aquela que do ponto de vista cardiovascular mais nos preocupa é a gordura abdominal, ou seja, a visceral. Potencia estados mais pró-inflamatórios, sendo muito mais nociva e perigosa.

E a partir de quando é que o excesso de gordura passa a ser preocupante? Não há propriamente um limite a partir do qual podemos dizer: Aqui não há problema e aqui já há problema. Não existe uma fronteira clara. O risco vai aumentando de uma forma gradual. Mas quanto maior o IMC, maior o risco cardiovascular.

Este perigo depende também de outros fatores predisponentes no indivíduo. Tem que ver com fatores de risco, até genéticos. Por isso é que há pessoas com uma super obesidade que vivem até aos 100 e outras com um peso normal que morrem aos 30. Mas o certo é que quanto mais grave for o nosso excesso de peso, maior a probabilidade de termos menor esperança de vida – que é afetada quer nos muito magros, quer nos obesos.

O papel da sociedade

A obesidade não afeta só a saúde física, mas também a psicológica. Nestes efeitos, a sociedade tem um papel fundamental.

A nossa sociedade tem de ser inclusiva. Estando alerta para o problema de excesso de peso, deve ser tolerante com aqueles que têm obesidade. A nossa postura tem de ser sempre positiva, no sentido de melhorar a saúde dessas pessoas. A própria sociedade tem também uma responsabilidade no excesso de peso dos seus elementos. E há pessoas que têm características genéticas que as tornam mais suscetíveis à acumulação de peso.

É muito importante não discriminar aqueles que tomam medidas para tratar a obesidade: Tanto se discrimina quem é obeso, como se discrimina quem opta recorrer a profissionais especializados que os ajudem, quer com apoio farmacológico, quer com apoio cirúrgico, para resolver essa obesidade. Esta busca por tratamento médico especializado reflete uma grande coragem para enfrentar o problema de frente e, por isso, deverá ser alvo de celebração e nunca de inferiorização.

Dr. Eduardo Lima da Costa

Cordenador do Centro de Tratamento da Obesidade

Hospital Lusíadas Porto

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