Saúde: Treinar com frio



Muitas pessoas se questionam se é aconselhável treinar ao ar livre (seja corrida, ciclismo ou treino de força naqueles ginásios de rua e jardim) quando as temperaturas estão baixas.

Fisiologicamente o corpo humano autorregula-se visando a manutenção da homeostasia térmica dentro de um limite estreito de temperatura corporal. Apesar dos potenciais riscos associados à prática de exercício em baixas temperaturas, o ACSM (American College of Sports Medicine) defende que a prática de exercício pode ser realizada na maioria dos ambientes frios sem aumento significativo de risco lesões, desde que sejam adotadas medidas e considerados os diversos fatores de risco.

Como fator positivo, a prática de exercício físico em ambientes frios pode melhorar a resistência aeróbia e contribuir também para o aumento da exposição solar nos meses de outono/inverno.

Por outro lado, vários fatores, incluindo o ambiente, vestuário, composição corporal, estado de saúde, estado nutricional, a idade e intensidade do esforço contribuem para que o ambiente frio possa constituir um fator significativo do ponto de vista fisiológico e no aumento do risco de lesão quando comparado com a mesma atividade realizada em ambiente temperado.

Deste ponto de vista existem estados patológicos que podem representar um risco adicional e que requerem o cuidadoso aconselhamento e acompanhamento médico sobretudo nas fases de início de prática de atividade física em ambiente frio.

Como exemplos de condições que podem determinar o aumento de risco destacam-se: a privação de sono, doenças endocrinológicas (hipotiroidismo, diabetes, hipopituitarismo…), patologia respiratória (sobretudo a asma), doença arterial periférica, doença cardiovascular (hipertensão arterial não controlada, enfarte do miocárdio prévio), patologia neurológica central (AVC, doença de Parkinson, esclerose múltipla, traumatismos vertebro-medulares…), infeções ativas, doença renal, lesões que condicionem uma alteração do efeito de barreira da pele (psoríase, feridas, queimaduras, dermatites…), baixo teor de gordura corporal, extremos de idade (respostas adaptativas mais lentas às alterações de temperatura), consumo de álcool ou estupefacientes.

O frio pode representar um risco de morbilidade e mortalidade adicional em populações de risco: doenças cardiovasculares e asma. No último caso, a inalação de ar frio pode desencadear a exacerbação desta patologia.

Dr. Vítor Brás da Silva

Médico fisiatra

Coordenador do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital Lusíadas Lisboa