Sexo, sexualidade e género na educação profissional no Brasil e em França

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Este mês foi lançado em França um livro bilingue (francês-português) que abrange um tema pouco estudado em França na área das Ciências da Educação: o Ensino Profissional. Os quatro autores – Ilane Ferreira Cavalcante (professora universitária em Natal, Brasil), Jacques Gleyse (professor universitário em Montpellier), Avelino de Lima Neto (professor universitário em Natal e Montpellier) e Julie Thomas (socióloga) – produziram então a obra “Sexo, sexualidade e gênero na educação profissional no Brasil e na França: Estudos Exploratórios” (na versão francesa: “Sexe, sexualité et genre dans l’enseignement professionnel au Brésil et en France: Études Exploratoires”) de maneira a colmatar essa lacuna.

Este estudo comparativo demonstra, segundo os autores, o avanço brasileiro na área, não só graças ao maior número de estudos e de publicações produzidos, mas também graças à existência de 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia que acompanham os estudantes desde o Ensino Secundário ao momento do doutoramento. Por outro lado, esta abordagem brasileira toca, ao contrário do que se faz em França, em temas tão sensíveis como o sexo, a sexualidade e o género.

Tanto no Brasil como em França, os cursos profissionais, devido à sua própria dinâmica e tradição promotora de estereótipos, são altamente segregadores no que ao género diz respeito. Existem ensinos profissionais muitíssimo masculinizados (informática, mecânica, engenharia…) e outros fortemente feminizados (costura, educação infantil…). Os autores defendem a construção de um modelo capaz de promover a “superação do género”.

A esse modelo assente no masculino/feminino junta-se agora a presença de pessoas não binárias e das pessoas LGBT+, cuja maior visibilidade não faz desaparecer as violências físicas e simbólicas de que são vítimas, o que causa um grande sofrimento e vulnerabilidade, chegando-se ao ponto, referem os autores, em que as vítimas “adotam comportamentos de risco, tais como a automutilação, o consumo abusivo de álcool e outras drogas, chegando mesmo a tentar o suicídio”.

Os autores salientam também o “avanço reacionário” na política brasileira e o uso da expressão “ideologia de género, nascida no seio de grupos religiosos e que tem funcionado como um dispositivo acionador do pânico moral”. Discurso obscurantista que ameaça “a efetivação de uma cidadania plena para mulheres e pessoas LGBT+”.

Os autores referem que, em França, embora em menor grau, também existe essa “cruzada moral sobre a teoria de género encabeçada por grupos sociais mais conservadores ou reacionários”.

Os autores concluem que em França, “longe de ser pensada como emancipatória, a educação profissional ofertada no Ensino Médio é desvalorizada, marcada por dupla desqualificação de seu público: escolar e social”.

Uma obra de grande relevância que compara os Ensinos Profissionais brasileiro e francês, enquadrando-os no contexto da sociedade moderna desde já bem entrado século XXI.

 

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