Home Comunidade SOS: 13 restos mortais de soldados de Napoleão descobertos no PortoAntónio Marrucho·8 Março, 2025Comunidade Treze restos mortais de soldados de Napoleão foram encontrados em maio de 2020 em escavações efetuadas no Porto. Que destino foi dado a este precioso achado ? Só em abril do ano passado, fomos sabedores desta descoberta. Importante e rara descoberta, mesmo se a Batalha do Porto, travada a 29 de março de 1809, durante a segunda Invasão napoleónica, deixou muitas mágoas na cidade, nomeadamente com o trágico desastre da Ponte das Barcas. Mais de 2 séculos passaram, a paz reina e reinará entre os nossos dois países. Mas os treze esqueletos são testemunhos importantes por diversas razões : Nos nossos dias, chegámos à conclusão que todo o combatente, soldado, tem direito a ser honrado. Na morte, no sacrifício, seja um camarada ou inimigo, o sofrimento, os valores defendidos, são os mesmos, a defesa dos valores da sua Pátria. As guerras são desencadeadas pelos altos comandos, os soldados a nível pessoal nada os opõem, de uma maneira geral, recordamo-nos aqui o exemplo da “Trêve de Noël de 1914”. Os soldados começaram a ser honrados, sepultados, a partir da I Guerra mundial. Não se conhecem cemitérios em que estejam sepultados número assinalável de soldados das guerras de Napoleão. Os mortos eram abandonados nos campos de batalha, não era indicado nominalmente que ali estava sepultado este ou aquele combatente. A descoberta do Porto é notória. Houve ali esforço de se enterrar não um, mas 13 soldados juntos, do General Soult. Recordamos, também, a urgência nas batalhas de se enterrarem os mortos rapidamente afim de se evitar ou minorar eventuais pestes. Seria um ato digno para Portugal de se colocar num cemitério estes soldados afim de ali serem honrados, lembrados e através deles os sacrifícios de muitos milhares mais, ou de serem restituídos à França para que tal possa ter lugar. Seria igualmente uma forma de testemunhar a cooperação e as boas relações entre a França e Portugal. Somos passadores de informação, estamos certos de que a maior parte dos leitores desconheciam este achado. Segundo os interesses e prioridades de cada um de nós, consideramos esta informação como mais ou menos importante. Pelos tempos que correm, com as diversas inteligências que difundem, tentamos informar et documentar, a fim de estarmos o mais próximo possível da verdade. Pessoalmente colocamo-nos a questão : que adveio desta descoberta ? Os mais de 200 mil leitores do LusoJornal têm direito de ser informados. Para tal, diligências e pesquisas foram por nós efetuadas a fim de informarmos. Já lá vão dois meses que telefonamos, enviamos e-mails, que somos enviados de organismo para organismo, que promessas nos são feitas e até hoje nenhuma resposta concreta nos foi dada do que é feito, de onde estão os 13 restos mortais. Suponho que o dito achado está em algum lugar, a ser pesquisado, em pausa ou outra… que não foi destruído. Estamos convencidos a 100%. Quando efetuamos pesquisas junto de organismos franceses, respondem-nos rapidamente e quase a 100%, em Portugal de, talvez, meia centena de e-mails, pedidos de informação a organismos oficiais ou não, apesar das raras exceções, ninguém, mas ninguém mesmo, responde. Uma resposta com uma simples palavra: sim, não, o enganou-se… já seria uma resposta, e não ficamos à espera de uma outra hipotética resposta que nunca chega. Já devíamos estar habituados a este tipo de reação ou, mais bem dito, da falta dela, contudo será que podemos continuar a não ter respostas, será por bem não nos colocarmos perguntas e não colocarmos a quem seria susceptível de nos dar respostas (ler AQUI)? Na presente pesquisa, nem tudo se passou mal, mesmo se não podemos avançar com resposta à pergunta que nos colocamos e que colocámos. Depois do envio de e-mail, contatamos os responsáveis da sociedade de arqueólogos que descobriu os restos mortais dos soldados, Civitas Arqueologia. Foi-nos indicado que o achado teria sido transmitido à Direção Regional da Cultura do Norte. Perguntamos num segundo tempo quando foi transmitido o achado, contactos e se houve algum protocolo entre as duas partes, troca de documentos sobre o assunto. Quem também nos deu uma pista foi o Serviço Municipal de Gestão do Património Cultural do Porto. Telefonámos, enviamos e-mails à Direção Regional da Cultura do Norte, para o Museu da Universidade do Porto, enviámos um primeiro e-mail para Património Nacional a 24 de janeiro, telefonámos, reenviámos novamente e-mail, enviámos e-mail para Embaixada de França em Portugal… Tivemos a confirmação, ao telefonarmos, que os e-mails enviados foram bem recebidos e encaminhados para quem seria susceptível de nos responder. Até hoje não sabemos do paradeiro dos ditos esqueletos. Será que há segredo? Por que razão? Um problema de segurança? Mesmo a Gioconda que tem um valor inestimável, sabemos onde se encontra, podemos visitar. . Para o historial da descoberta: A Equipa da Civitas Arqueologia anuncia no dia 20 de maio de 2020: “Escavação arqueológica em curso, da Civitas Arqueologia, na rua de S. Miguel, no Porto, revela um antigo cemitério, possivelmente do século XIX”. A 22 maio, a mesma fonte pública que “levantamento fotogramétrico de um esqueleto, encontrado em escavação arqueológica na rua de São Miguel, por uma equipa da Civitas Arqueologia” e a 28 de maio de 2020 que “na sequência da publicação sobre a necrópole encontrada na rua de São Miguel, no Porto, a Civitas Arqueologia investiga a possibilidade destes enterramentos serem de soldados franceses que terão vindo com o corpo do exército de Soult. Tendo já encontrado uma Chapa de Barretina usada pelo 76ème Regiment de Ligne (Infantaria de Linha francesa do período napoleónico). Até ao momento não existiam quaisquer registos que este batalhão tivesse estado no Porto. Portanto, acreditamos que estamos perante um sítio arqueológico ímpar, sem qualquer paralelo à escala da cidade do Porto para este período cronológico”. A 29 de julho de 2020, na internet, era publicada a notícia, pela municipalidade, do Porto: “Escavação arqueológica num edifício em restauro na rua de S. Miguel permitiu encontrar as ossadas de 13 soldados franceses que, há mais de 200 anos, terão integrado o Corpo do exército de Soult… Os materiais encontrados nas escavações feitas num edifício que se encontra em restauro na rua de S. Miguel, nas traseiras do Mosteiro de S. Bento da Vitória, são dos mais relevantes dos últimos tempos, garantiu a equipa de arqueólogos responsável pelo achado, citada pelo JN. “Em 90% das prospecções que são realizadas nada de muito interessante é encontrado para o público em geral”, afirmou João Silva, acrescentando: “O mais curioso desta descoberta está no facto de os soldados pertencerem a uma companhia que até hoje se desconhecia ter estado aqui”. As casas que estão a ser intervencionadas na rua de S. Miguel ainda não existiam na altura, pelo que os soldados franceses terão sido enterrados nos terrenos que pertenciam ao Mosteiro de S. Bento da Vitória, que durante a época das Invasões serviu como hospital de campanha. Estes achados encontravam-se muito perto da superfície, a meros 40/50 centímetros de profundidade. E, apesar de serem inimigos, não foram sepultados numa vala comum, notou a antropóloga Zélia Rodrigues ao JN: “Houve cuidado no enterro. Isso vê-se pela posição dos braços e disposição dos corpos”. Fazendo seguimento a publicação do achado na internet, um leitor respondeu: “não querendo ser desmancha prazeres, a chapa é do 66ème.. Há registos de terem estado no Porto. Basta verem (não sendo esta uma fonte sempre fiável, claro) na página da wikipedia do regimento: 1809”. Questão de especialistas? Talvez. Uma coisa é certa: os restos mortais parecem bem ser de soldados de Napoleão, senão como explicar a placa, botões, etc encontrados junto dos restos mortais? Mesmo que sejam soldados de Regimento de infantaria não presente no Porto, não terá havido casos de alguns soldados passarem de um Regimento para outro? Pode-se também falar da remota possibilidade dos soldados serem portugueses e de terem falecido aquando do Cerco do Porto, entre julho de 1832 a agosto de 1833. Se assim fosse, como explicar a presença de artefatos napoleônicos? Um excelente trabalho de 14 páginas, detalhado e documentado, foi elaborado pelos arqueólogos João Silva, Zélia Rodrigues, Nuno Gomes e Hernani Lamego (ler AQUI). Um trabalho de especialistas para quem tem paixão pela história e pelas Invasões francesas em particular. Aqui fica a informação, contudo parcial, falta uma informação essencial, importante para o que é intitulado dever de Memória. Dar um digno destino ao achado dos 13 restos de soldados de Napoleão no Porto será que não poderia ter uma implicação sobre o dever de Memória em França relacionado com os soldados do Corpo Expedicionário Português? Quem sabe, talvez após esta nossa informação, outra nos chegue sobre o paradeiro do achado!