Temporada Cruzada Portugal França: um dos mais importantes eventos culturais franco-portugueses jamais realizados

O Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, já tinha anunciado o adiamento da Temporada Cruzada Portugal França, para 2022. Este evento cultural que acontece por ocasião das Presidências portuguesa e francesa da União Europeia, estava previsto para acontecer entre julho de 2021 e fevereiro de 2022. Vai ser, certamente, um dos mais importantes eventos culturais franco-portugueses jamais realizados.

Numa entrevista ao LusoJornal, João Pinharanda, o Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em França e também Diretor do Instituto Camões, confirmou o adiamento e explicou ao LusoJornal a complexidade do projeto.

A Temporada Cruzada Portugal França é presidida pelo lusodescendente Emmannuel Demarcy-Mota, Diretor do Théâtre de la Ville, em Paris, e tem dois Comissários: Victoire Bidegain Di Rosa pela França e João Pinharanda por Portugal. Foram nomeados em outubro.

No caso francês, esta organização está “rodada” há muitos anos e é levada a cabo pelo Instituto francês, com a dupla tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mais dominante, e do Ministério da Cultura. “Faz parte do projeto da diplomacia cultural francesa” confirma João Pinharanda.

A Temporada “é a continuidade de um trabalho que o Instituto Francês faz há duas décadas, com vários países convidados” diz João Pinharanda. “Por um lado temos uma tradição que nós vamos aproveitar e por outro lado nós queremos transformar este programa, num programa mais vasto, pelas relações que há entre os dois países e pelas ambições dos dois Governos que decidiram que esta troca cultural seja mais abrangente, da ciência à gastronomia e do teatro ao turismo”.

A Comissária francesa vive há vários anos em Portugal. “Ela conhece muito bem o meio cultural português, já foi também Conselheira cultural em alguns países hispânicos, conhece bem a diplomacia cultural francesa, conhece bem o meio cultural português, fala e escreve português”.

No caso português, há 5 ministérios implicados, desde os Negócios Estrangeiros, à Cultura, até à educação, Ciência e Ensino Superior. Mas “vai ser preciso montar o projeto, montar a equipa, na medida em que ela não existia à partida e quando este projeto acabar não se vai manter. É uma missão temporária que nós temos especificamente para tratar com a França” diz o Comissário português.

 

Inventário de recursos

Para a realização deste projeto gigantesco foi necessário fazer um levantamento dos recursos, um inventário dos eventos culturais. “Primeiro fizemos um levantamento dos recursos, do que já existe na área do teatro, da dança, do cinema, da literatura, da arquitetura portuguesa” diz João Pinharanda numa entrevista ao LusoJornal.

Estas são áreas onde regularmente já há eventos portugueses em França. O encenador Tiago Rodrigues vem regularmente apresentar espetáculos em França, onde tem tido as melhores críticas, os autores portugueses também têm sido divulgados em França, mas o Conselheiro Cultural da Embaixada quer ir mais longe. “Identificámos as áreas onde podemos crescer, nomeadamente a questão da música, não só da música popular portuguesa, mas também da música erudita, da música independente, temos aqui também um ator fundamental que é o Fernando Ladeiro Marques, o Diretor do Festival MaMa que traz permanentemente artistas portugueses e que no ano passado deu um destaque a Portugal e foi um êxito”. Trabalha também na área das artes plásticas e da streetart.

Para abranger uma dimensão nacional, os Comissários do evento recorrem à lista das associações portuguesas de França, à lista dos lusoeleitos, à lista das cidades geminadas, e até à lista das 7 cidades portuguesas candidatas a Capital Europeia da Cultura em 2027, cuja candidatura deve ser apresentada por altura da Temporada.

E depois há os muitos festivais e eventos regulares que se realizam em França e que a organização da Temporada quer associar ao projeto. “Este é um verdadeiro trabalho de diplomacia cultural dupla” diz João Pinharanda. “Por exemplo, quando um grupo de teatro quer vir a França, nós perguntamos quem é que eles querem receber em Portugal”.

 

Um programa abrangente

Todas as frentes estão a ser trabalhadas. Por exemplo, a organização da Temporada aproveita a assinatura recente de um Protocolo entre a Région Île-de-France e a Grande Lisboa, e identificou áreas mais abrangentes ainda. “Por exemplo, porque é que o Museu de Arte Antiga não dialoga com o Museu do Louvre? Isso vai acontecer durante a Temporada” ilustra João Pinharanda.

A organização vai trabalhar em áreas tão distantes como o desporto escolar, os intercâmbios científicos entre os dois países, recorrendo por exemplo à Associação dos Graduados Portugueses em França, AGRAFr, a colaboração franco-portuguesa no acelerador de partículas CERN e com o Institut Pasteur, até aos interesses do mar, apesar da Conferência sobre os Oceanos, recentemente prevista, ter sido adiada. “Estamos a falar de Cultura com um H grande” ri João Pinharanda. “Nós queremos ser uma espécie de sítio onde os feixes daquilo que já existe, convergem e depois continuam”.

E exemplifica que “há 6 ou 7 anos que está para ser assinado um Protocolo entre a Direção dos monumentos nacionais francesas e a Direção geral do património cultural em Portugal para trocas entre os museus dos dois países. Finalmente vai ser assinado durante a Temporada”.

Com esta mudança de data, há eventos que estavam previstas durante a Temporada e que acabam por se realizar antes, como é o caso do Festival internacional de Geografia de Saint Dié-des-Vosges em que Portugal será o país convidado em 2021. “Inicialmente eu até fiquei triste, mas ainda bem que assim é porque nós não vivemos só da Temporada” reconforta-se o Conselheiro Cultural.

 

História da emigração portuguesa

Também a história da emigração portuguesa para França vai marcar presença na Temporada Cruzada Portugal França. “Há um projeto com o próprio Museu da imigração” garante João Pinharanda. Garante ainda que “o Diretor da Cinemateca francesa já encontrou o realizador do filme O Salto, esse filme mítico sobre a emigração dos anos 60, que está por restaurar. Vamos ver se o restauramos com a Cinemateca portuguesa e a Cinemateca francesa porque é um filme que está desaparecido há muito tempo”. A Temporada vai abordar também a história da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial.

O orçamento do evento ainda não é conhecido, pelo menos João Pinharanda não o quis divulgar. Disse apenas que “é importante e é equivalente ao da França”. Foi um orçamento pensado antes da crise, que vai certamente ter de ser repensado no seguimento da pandemia e do adiamento das datas.

Mas os organizadores querem também recorrer a empresas mecenas. Para a Temporada com a Coreia, o mecenas foi a Samsung, para a do Japão foi a Mitsubishi e a Toyota. Para a Temporada Portugal França, João Pinharanda está a pensar “nos muitos empresários luso franceses. Há empresas suficientemente poderosas em ambos os países para o Comité de mecenas que é uma coisa que nós temos que montar” explica ao LusoJornal.

Brevemente a organização vai disponibilizar formulários de candidatura para quem quiser concorrer à programação da Temporada Cruzada Portugal França.

 

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