Textos de alunos de português no estrangeiro vão ser estudados por universidades

Cerca de 300 mil textos de alunos de português no estrangeiro vão ser estudados, durante cinco anos, no maior conjunto mundial de língua de herança, por um consórcio entre o Instituto Camões e quatro universidades portugueses e duas estrangeiras.

O consórcio, composto pelo Camões – Instituto de Cooperação e da Língua e universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, Porto, Minho, Lancaster (Reino Unido) e Tübingen (Alemanha), vai analisar o «maior ‘corpus’ do mundo na língua de herança», disse ontem o Diretor deste organismo, Patrick Rebuschat (Universidade de Lancaster), na sessão de formalização.

Este ‘corpus’ irá reunir cinco ou seis textos redigidos por ano pelos mais de 70 alunos de português como língua de herança, ao longo de cinco anos, num total de «200 a 300 mil» trabalhos, explicou o responsável.

Atualmente, mais de 72 mil alunos aprendem português como língua de herança, no estrangeiro, enquanto o português como língua segunda conta com mais de 113 mil estudantes.

O trabalho de recolha será assegurado pela rede de Coordenadores do ensino do português no estrangeiro e, onde não os houver, através dos postos consulares e diplomáticos. «O primeiro grande objetivo é estudar o perfil dos alunos e das suas famílias – um estudo de contexto – tendo em vista aperfeiçoar os conteúdos dos materiais didático-pedagógicos quer a própria formação de professores», disse o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.

O governante sublinhou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros – que tutela o Camões – tem «duas prioridades que caminham juntas», referindo que «o objetivo de integração da língua nas estruturas curriculares dos países onde temos Comunidades não significa desguarnecer ou dar menor atenção ao ensino da língua portuguesa enquanto língua de origem».

José Luís Carneiro reconheceu que «há desafios vastos a vencer», desde logo o de «garantir que as famílias em suas casas falam em português com os seus filhos».

«Por isso é importante estudar o contexto», comentou o governante, referindo que o estudo vai permitir responder a questões como: «Porque é que procuram a língua portuguesa? Qual o papel das famílias na procura da língua portuguesa? Se a língua portuguesa é um fator de inserção, de inclusão, ou é um fator de bloqueio à integração cívica ou institucional?».

Já o Secretário de Estado da Educação, João Costa, sublinhou a necessidade de as políticas públicas se fundamentarem cada vez mais «em evidências», apesar de, na educação, também haver medidas que se baseiam na ideologia. «Quando decidimos apoiar os filhos dos nossos emigrantes que não têm acesso à língua materna, há aqui uma decisão claramente ideológica de não os deixar sozinhos nem perder o contacto com a sua língua materna», sublinhou.

Comentando que não há ainda «um corpo de dados suficientemente robusto», João Costa defendeu que a criação deste consórcio «é fundamental para termos uma política de língua cada vez mais sustentada em evidência científica».