Lusa | António Cotrim

Tiago Rodrigues: “Mais cedo ou mais tarde, o português será a língua convidada do Festival d’Avignon


Este ano, Tiago Rodrigues, o Diretor do mais reputado Festival de teatro do mundo – o Festival d’Avignon – anunciou que a língau árabe, “a quinta língua mais falada no mundo” é a convidada do Festival.

Numa entrevista ao LusoJornal, Tiago Rodrigues explicou quais as razões para convidar uma língua diferente em cada edição do Festival e disse que “mais cedo ou mais tarde, o português será a língua convidada do Festival”.

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Porque razão o árabe é a língua convidada do Festival de Avignon deste ano?

O Festival de Avignon é historicamente um festival ancorado em duas ideias muito importantes: o poder das palavras – porque é um festival que desde 1947 e da sua fundação por Jean Vilar, diz e defende que dizer uma palavra em voz alta, uma palavra escrita mas dar-lhe voz, dar-lhe carne, dar-lhe corpo, é um gesto cultural, artístico, político, mas fundamentalmente um gesto humano vital, necessário – e a outra ideia muito importante é que é um festival internacional – é um festival que existe em Avignon, descentralizado, numa cidade de escala humana, com 90.000 habitantes, que não é muito grande, mas que se torna a capital mundial do teatro durante o mês de julho. Portanto, esse gesto de abrir ao mundo e de convidar o mundo, de respeitar e mais do que respeitar, amar a diferença, amar o outro, levou-nos a dizer: vamos juntar estas duas ideias, a dimensão internacional e a dimensão da força das palavras e então vamos convidar línguas.

Podia ter convidado um país

Convidar uma língua não é convidar um país ou uma região, é dizer que, a partir de Avignon, vemos o mundo organizado, ou desorganizado, ligado por línguas e não dividido por fronteiras e nacionalidades. É esse gesto que nos permite, depois, também com toda a liberdade e com toda a curiosidade, lançarmo-nos à descoberta de artistas, de espetáculos, mas também de escritores, de cinema, de música, ligados à língua convidada e que nos permite este ano, ao convidarmos a língua árabe, a apresentar uma programação muito rica, muito diversa, e ao mesmo tempo surpreendente, de uma língua que infelizmente muitas vezes é sequestrada por uma visão obscurantista, pelo ódio, pela guerra e que é uma língua que é a quinta mais falada do mundo e que durante séculos e ainda hoje, foi e é uma língua de diálogo, de abertura de curiosidade de transmissão.

Esta marca sua é para continuar no Festival? E vamos ter um dia a língua portuguesa em Avignon?

O convite de línguas começou em 2023, desde a minha chegada ao Festival. É uma ideia que se acrescenta àquilo que é o código genético do festival, ou seja, convidar uma língua pode ser uma novidade, mas as razões de o fazer são as razões históricas de um Festival aberto ao mundo, que quer ser uma espécie de café ou livraria viva, aberta para a Europa e para o resto do planeta. Nesse sentido, convidamos o inglês em 2023, o espanhol em 2024, este ano convidamos o árabe, pela primeira vez uma língua que não surge da Europa para o mundo, mas que vem do mundo para a Europa. A partir do próximo ano continuaremos a convidar línguas e sem dúvida que mais tarde ou mais cedo convidaremos o português.