LusoJornal / Luísa Semedo

Últimos dias da exposição “Fragmentos Urbanos” de Vhils em Paris

Faltam poucos dias para o encerramento da exposição “Fragments Urbains/Fragmentos Urbanos” do artista português de Street Art Vhils, em Paris.

Vhils, também conhecido pelo seu verdadeiro nome de Alexandre Farto, nasceu em 1987 e cresceu no Seixal, um subúrbio industrial da margem sul do Tejo onde começou a fazer grafitis ainda muito jovem. É hoje um dos mais conceituados nomes da Street Art mundial, as suas obras estão presentes um pouco por todo o mundo, de São Paulo a Sydney passando por Los Angeles, Hong Kong e Lisboa onde o artista vive.

A exposição “Fragments Urbains/Fragmentos Urbanos” teve início a 19 de maio e termina já no final deste mês a 29 de julho no espaço cultural Cenquatre-Paris.

Em entrevista à Lusa, Vihls explica o conceito de “fragmentos urbanos” e afirma que se trata de uma reflexão sobre “a condição humana na cidade”: “São, se calhar, estes retalhos de memórias ou de fragmentos que me fizeram refletir ou criar este corpo de trabalho que todos juntos fazem uma reflexão ainda maior. Ou seja, é o juntar destes fragmentos todos que me permite fazer a reflexão sobre a condição humana na cidade”.

No átrio do Cenquatre-Paris esses fragmentos estão aglutinados numa grandiosa e imersiva instalação de automóveis, eletrodomésticos, livros, calçado e vários outros objetos abandonados, inclusive várias bombas de pintura. Todos estes elementos estão pintados de branco o que resulta numa impressão ambígua entre a fragmentação e a impressão de estarmos face a uma mesma e única matéria.

Vhils junta ainda uma camada à interpretação desta obra pois adiciona ecrãs dentro da própria obra onde o visitante, ao passear pela instalação, se pode ver como fazendo parte da obra.

O artista explica os vários níveis de compreensão da sua obra dizendo que “há esta reutilização de uma série de elementos que fomos recolhendo de coisas que a cidade ia expelindo, os quais uniformizei com uma cor e tentei construir com eles algo em que as pessoas consigam ter diferentes leituras: primeiro a vista de uma obra de arte, depois algo que relativizas e vês como lixo e, depois, ao mesmo tempo, fazes uma outra leitura em que te vês tu próprio dentro de uma obra”.

Os restantes elementos da exposição espalham-se por várias salas, onde Vhils desconstrói e reconstrói as temáticas da vida urbana, através de vídeos em slowmotion de várias cidades do mundo projetadas num ecrã panorâmico, numa sala escura, e que obrigam o visitante a olhar de forma demorada e a refletir sobre as pessoas e o meio ambiente citadino que as rodeia e da qual são uma parte integrante.

O contraste impressiona entre aquilo que conhecemos da vida movimentada de uma cidade e as imagens em câmara lenta, que segundo o artista pretendem “fazer quase o inverso do que o que a cidade faz” pois “aquele é o processo conceptual que faço para tentar desacelerar o ritmo todo da cidade e tentar olhar para os detalhes que perdemos no dia-a-dia mundano da nossa vida, que muitas vezes perdemos pelo ritmo da cidade”.

Esta técnica da câmara lenta é também utilizada numa outra instalação de vídeo, “Detritos”, em que Vhils mostra ao público a sua técnica de Street Art com explosivos. Esses explosivos que Vhils coloca de forma metodológica nas paredes e muros de várias partes do mundo resultam em retratos humanos ou palavras esculpidas. Esta técnica de vídeo deixa o visitante fascinado com o efeito poético da lenta explosão, do fumo e com a surpresa da vagarosa aparição da obra final.

Noutras salas, Vhils utiliza várias matérias como cartazes publicitários aglomerados em camadas e nos quais são esculpidos retratos humanos e a esferovite numa imensa instalação que representa a cidade e que podemos ver refletida num grande espelho no teto da sala e onde descobrimos que a cidade forma, igualmente, rostos.

Na galeria Magda Danysz-Paris no 11° bairro a exposição continua com a apresentação de “Escombros/Décombres” até dia 28 de julho.

A nova grande obra de Vhils pode ser vista em Portugal na Barragem da Caniçada, na bacia do rio Cávado no norte do país. Trata-se de um gigantesco rosto “inspirado nos trabalhadores que deram o seu corpo e alma à edificação da barragem”, como explica o artista na sua página Facebook. A obra foi realizada no âmbito do projeto da EDP Roteiro de Arte em Barragens, e já contou com a participação de nomes como Álvaro Siza Vieira, Graça Morais ou Eduardo Souto de Moura.

Situado no 19º bairro da capital francesa, o Cenquatre-Paris é um espaço de residências, de produção e de difusão para os públicos e artistas do mundo inteiro. Pensado pelo seu Diretor, de origem portuguesa, José Manuel Gonçalves como uma plataforma artística colaborativa, dá acesso ao conjunto das artes atuais, através de “uma programação decididamente popular, contemporânea e exigente”.

É um atípico lugar de vida, com lojas, com espaços para a prática artística livre e para os mais pequenos e as famílias. As start-ups que integram a sua incubadora constituem um território de experimentação única, no cruzamento entre a arte e a inovação.