LusoJornal / Mário Cantarinha

O 25 de Abril do jornalista Artur Silva

No dia 25 de Abril de 1974 estava a viver nos arredores de Toulouse e fui acordado às 7 horas da manhã pelo meu vizinho e proprietário – Arthur, il y a eu la Révolution chez toi!

Abro as janelas de pau e respondo: Révolution ou coup d’Etat?

Durante esse dia o senhor já idoso, furioso, não me disse mais nada. Eu “escaldado” com o que se tinha passado no mês de março, tinha dificuldades em compreender que o Regime fascista tivesse sido derrubado.

A alegria de saber que o meu exílio e o combate contra a Guerra colonial iria terminar, pensei no meu pai que tinha lutado e pago na pele para obter, enfim, a Liberdade.

Foi necessário ir a uma cabine telefónica para falar com os meus pais: é verdade o que dizem? – o meu rádio esteve ligado o dia todo… respirava melhor e a minha primeira filha, prestes a nascer, teria um pai com o direito de voltar ao seu bairro da Ajuda.

Foi necessário esperar pelo dia 26 de abril para ler a imprensa (La Dêpèche du Midi, Le Monde, l’Humanité, le Figaro, etc) para saber que era verdade. O Regime fascista foi derrubado, havia “Capitães de Abril”, cravos mas também um Spínola!

Eu como sindicalista em França e membro de um CLAC (Comité de luta anticolonialista), pertencendo ao MPAC (Movimento de luta anticolonialista), compreendi nesse dia que, mais uma vez a luta tinha sido recuperada pelo sistema.

Havia liberdade, mas em agosto de 74, numa manifestação contra a Guerra colonial no Rossio, em Lisboa, um manifestante foi morto… Eu só tive direito a um passaporte no mês de dezembro de 74, por uma semana… e como fugi à tropa, exigiam-me 60 mil escudos de multa…

Hoje, as poucas conquistas de Abril estão a desaparecer, hoje a Liberdade é a de “apertar o cinto”. Hoje mais do que nunca seria necessário um verdadeiro 25 de Abril, mas desta feita dirigido pelo Povo, para o Povo, e sem compromissos com aqueles que nos exploram.

 

Artur Silva

Jornalista, co-fundador da Rádio Alfa, ex-Sindicalista

 

Testemunho recolhido para o LusoJornal, no quadro da Exposição sobre os 40 anos do 25 de Abril, do fotógrafo Mário Cantarinha, publicado na edição em papel do LusoJornal de abril de 2015.

 

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