Home Cultura Poesia de José Grenha: De mim para ti meu paísLusojornal·29 Outubro, 2017Cultura Publicamos hoje no LusoJornal, o primeiro poema de um dos muitos milhares de poetas que Portugal possui. Uma grande maioria nunca foram publicados. Milhares de poemas foram escritos muitas vezes para eles mesmos, familiares ou amigos. Poemas testemunho de um ser, de um estado de espírito, por vezes… de um aliviar. José Couto Alves Grenha faz parte desses milhares de poetas anonimos. Copiou para um caderno, grande parte da sua obra poética ao longo de 50 anos. Por amizade ofereceu o caderno a seu amigo António Marrucho. José Couto Alves Grenha começou a escrever no seu tempo de tropa em Angola em 1968, imigrou para França depois daqueles anos passados no ultramar. Viveu grande parte da sua vida na região de Lille onde exerceu vários ofícios, alguns em postos de resposabilidade. É pai de dois filhos e vive atualmente perto de Chantilly. É com autorização de José Grenha que publicamos hoje um primeiro poema que data de 23 agosto de 2005. De mim para ti meu país Viver é sofrer Viver é sentir um tal sofrimento que por vezes nem direito temos a um lamento E eu vivendo a sofrer. Tento esquecer as minhas máguas a escrever. Escrevo o meu destino que tem sido amargurado Vivo escrevendo aquela vida que gostaria de ter tido mas que passou a meu lado. Poderia ter sido aquilo que sempre sonhei mas preferi continuar a ser aquilo que sou A amar como amei. Se fui amado, não sei. Só posso dizer que sou aquilo que sou. Não recebi mas tudo dei, e tudo dou. E assim vou vivendo a vida amando Pois sou eu mesmo, embora me destrua caminhando. Para que o amor seja mais profundo e a vida tenha mais valor temos que correr mundo. Estar longe do país que amamos aí sim, é amor profundo que sentimos por vezes no nosso coração ferido pela indiferença mas o nosso amor é tão grande que choramos pois a saudade é imensa. Saudade, saudade é tristeza é sentir o coração a fraquejar é o querer receber mas só poder dar. Saudade és tu meu país que já não me lembro ver-te. É verdade que devido à saudade já tentei esquecer-te mas não consigo embora tu meu país querido tentes esquecer-me mas eu, sim eu, trago-te sempre comigo. Tu és aquilo que eu gostaria de ser Tu és nobre, és valente, tu és a cobiça de muita gente porque a tua pobreza faz com que sejas tão nobre que os outros com a sua riqueza têm ciumes da tua pobreza e até gostariam de ser pobres. Já faz três anos que te não vejo. Sei que neste momento sofres com as queimaduras mas tu és demasiado nobre para cair de joelhos à frente daqueles que te querem ver mais pobres. Eu sei que vais resistir pois tu sendo pequeno és demasiado grande e nobre. Tu tens aquilo que os outros não têm a tua nobreza. E isso meu querido país vale mais que a maior riqueza. Continua a ser aquilo que és que a tua riqueza que é a pobreza seja mais rica dando-te uma tal nobreza que a fartura dos outros passa a ser uma pobreza. E vou prometer-te que se um dia for aí ver-te fazer-te-ei um poema como nunca fiz. A tinta serão as lágrimas de meus olhos O papel, bocadinhos do coração E o tema: Amor aos molhos. Escreverei sobre ti direi ao mundo, o quanto és lindo e que mesmo estando longe Sinto por ti um amor profundo. José Couto Alves Grenha 23/08/2005