Casa de Portugal inaugura na terça-feira a exposição de Júlio Dolbeth e Mariana, a Miserável


A convite da Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Universitária Internacional de Paris, os ilustradores portugueses Júlio Dolbeth e Mariana, a Miserável realizaram em julho uma residência artística de dez dias durante o período que compreendeu os dias de preparação e o arranque dos Jogos Olímpicos de Paris.

O resultado desta residência artística vai ser apresentado a partir de terça-feira da próxima semana, dia 2 de outubro, com uma exposição intitulada “Sprint”.

“Foi uma experiência muito estranha. Não estava nada à espera. Foi muito diferente do que esperávamos encontrar, uma cidade em festa e cheia de gente”, contou à Lusa Mariana, a Miserável, recordando a cidade “cheia de polícia e de medo”, deserta de parisienses e sem projeção dos Jogos nas ruas.

“Até comentámos que, se fosse no Porto [onde ambos vivem], ia haver barracas de cerveja em todo o lado, ecrãs gigantes para as pessoas assistirem à cerimónia de abertura e lá não houve nada disso”, acrescenta Júlio Dolbeth. “Foi uma sensação agridoce, meio estranha”, considera o ilustrador, levando-os mesmo a alterar o plano inicial proposto pela Casa de Portugal, de desenharem a partir as olimpíadas.

Sem conseguirem ver diretamente nada dos Jogos Olímpicos, ambos absorveram “muita coisa através de notícias, ‘memes’, publicações”, conta Mariana, a Miserável.

Na exposição, refletem “o impacto que os Jogos Olímpicos têm no mundo”, particularmente nesta edição de 2024, em que “se falou muito de direitos humanos, de género, de posicionamento político”.

“O que achei mais interessante foi a projeção pública de coisas a que não estávamos habituados. Normalmente ficávamos orgulhosos quando a Rosa Mota ou Carlos Lopes ganhavam medalhas e agora há tanta informação paralela”, nota Júlio Dolbeth, recordando os ‘memes’ da ‘b-girl’ australiana na competição de ‘breaking’, “as questões políticas, sobre a Palestina, por exemplo, ou a equidade de género”.

A polémica em torno da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, entendida por muitos como uma paródia à “Última ceia”, de Leonardo da Vinci, também os inspirou: ilustraram num conjunto de bandeiras de pano os deuses do Olimpo, a verdadeira referência da organização para o espetáculo, enquanto desportistas. “Essa ideia interessou-nos e, por exemplo, Poseidon, o deus grego do mar, surge como jogador de polo aquático”, revela Júlio.

Depois de “Partir”, no Japão, em 2023, “Sprint” é a segunda exposição no estrangeiro dos dois ilustradores, que colaboram desde 2012. O título tem várias interpretações, desde logo o conceito de fazer algo no mais curto espaço de tempo, mas também a curta carreira dos atletas olímpicos, a exigência de autossuperação ou o facto de uma residência artística ser também, muitas vezes, um ‘sprint’.

Além das bandeiras pintadas, a Paris levam peças em cerâmica, uma tapeçaria de grande escala, com 6,90×1,10 metros, preparada com a empresa GUR, do Porto, e, já em França, vão desenhar nos vidros gigantes do ‘hall’ de entrada da Casa de Portugal.

O diretor da Casa de Portugal – André de Gouveia, João Costa Ferreira, destaca a forma como os dois vão utilizar o espaço da entrada e da Sala Pessoa: “Vai ser como se eles vestissem a ‘Maison du Portugal’ com outras roupas”.

“É também isto que muitas vezes se procura com as exposições: que não sejam apenas mostras de obras, mas que estas transformem o espaço através do qual se exibem”, contou à Lusa.

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