Artista Alexandre Estrela faz rugir metais em nova exposição na Gulbenkian de Paris

A exposição “Metal gritante” do artista português Alexandre Estrela abriu ao público na quarta-feira passada, na capital francesa, e quer questionar visitantes sobre imagens, meios de as transmitir e os sons associados aos diferentes metais incorporados na mostra.

A Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris recebe a primeira exposição a solo do artista português na capital francesa, numa mostra intitulada “Metal Hurlant” que foi inaugurada na quarta-feira da semana passada, e vai ficar aberta ao público até dia 16 de junho.

“Esta exposição permite repensar questões essenciais dos nossos dias: o que estamos a ver quando vemos uma imagem e de que maneira o próprio meio é um elemento decisivo e crucial na forma como o espetador perceciona a imagem. […] Alexandre Estrela utiliza o vídeo, mas podemos traçar uma ligação forte a outras disciplinas das imagens técnicas, da fotografia ou temas do cinema”, disse Sérgio Mah, Comissário da exposição, em declarações à Lusa.

Conhecido pela forma como explora o vídeo e outros meios para a difusão da imagem, Alexandre Estrela escolheu para esta mostra instalações onde o vídeo ou imagens estáticas são projetadas diretamente em ecrãs de metal – alumínio e cobre, alguns com cerca de 200 quilos -, acompanhadas por sons que reproduzem os efeitos reais desses materiais quando manuseados.

O artista português apresenta em Paris seis peças, sendo cinco inéditas, desde uma imagem aumentada e transformada em vídeo do pormenor de uma máquina de venda de bilhetes do Metro de Lisboa – onde os utentes raspam as moedas na esperança que sejam aceites para comprar as passagens (“Coin Scratch Plate”) -, até à projeção de imagens aumentadas ao microscópio de um disco de vinil (“An index of Metal”).

Para Alexandre Estrela, o metal “tem uma memória” e foi isso que quis explorar. “Com qualquer material, como acontece num vinil, há uma memória do momento em que foi riscado. E esta ideia de gravação, embebida na matéria, se tivermos o tradutor certo, conseguimos libertar toda a memória impressa. Não é à toa que as primeiras fotografias tinham metal envolvido. Também percebemos que o metal em si tem na sua estrutura molecular uma determinada memória e, que dependendo da temperatura, volta a um momento inicial”, afirmou o artista em declarações à Lusa.

Após expor no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, no Museu Rainha Sofia, em Madrid, e no Museu de Arte Contemporânea de Antuérpia (MuHKA), esta é a primeira exposição a solo em Paris de Alexandre Estrela, e Sérgio Mah considera que o artista português “encaixa” na dinâmica parisiense. “No panorama francês, o Alexandre Estrela é um artista que tem um leque muito variado de interesses, um deles é aquela zona que surgiu no final dos anos 60 e início dos anos 70 do cinema experimental, uma prática entre o cinema e as artes visuais, que são muito fortes em França. E a exposição encaixa muito bem dentro deste panorama que é tão valorizado no contexto parisiense”, disse o Comissário.

O artista português terá exposições e participações em mostras coletivas em 2019 em São Paulo, Roma, Cidade do México, e regressará a Paris em novembro, para exibir no Centro Pompidou.