Cabo Verde vai ter um Museu da Emigração

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Cabo Verde está a preparar a criação de um Museu da Emigração. O projeto foi apresentado no mês passado, a partir da cidade da Praia, numa transmissão digital para a diáspora, e numa entrevista ao LusoJornal, a Técnica do Instituto do Património Cultural (IPC), Rosângela Alfama, explicou que o projeto deve estar concluído até outubro de 2021.

Rosângela Alfama é Técnica do Instituto do Património Cultural, mas já trabalhou no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, sobretudo no setor das Comunidades caboverdianas, que conhece bem. “O Museu da Emigração é uma resposta do Governo para fazer justiça à própria história de Cabo Verde” disse ao LusoJornal. “A emigração caboverdiana e a história do povo caboverdiano confundem-se”.

O IPC é uma instituição do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde. É a estrutura que tem a vocação de gerir os museus do país, e de fazer acontecer este projeto, numa parceria evidente com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades e com as Universidades do país.

“O que se pretende com o projeto, é transmitir, preservar, perpetuar, toda a história e todo o processo migratório caboverdiano, desde o país de origem, o seu percurso, pelo que passou e passa nos diferentes pontos do mundo” explica Rosângela Alfama. “O Museu tem esse lado pedagógico de analisar, de tratar, todas as nuances, tudo o que está à volta do próprio universo migratório, para transmitir ao Caboverdiano aqui dentro e lá fora. É para fazer justiça a própria história do povo caboverdiano”.

O projeto ainda está numa fase embrionária, mas não deixa de ser um projeto ambicioso e complexo. “Não é apenas um espaço físico onde colocar objetos, é mais do que isso, envolve toda a nossa diáspora”.

Ainda não se sabe onde vai ficar instalado, fisicamente, o Museu da Emigração. “É algo que ainda está a ser analisado. Nós acreditamos que todas as ilhas merecem e tem algo a dar ao Museu”, mas por enquanto, o IPC não quer adiantar nenhuma pista. Pode estar em causa a recuperação de um edifício já existente, ou a construção de um edifício de raiz.

Um dos primeiros pilares do projeto é o de “mostrar a riqueza factual. Quem foram os primeiros emigrantes, para onde foram, quais os ganhos? Nós temos histórias riquíssimas de pessoas que deram muito e que ainda dão muito a Cabo Verde e são histórias que as gerações atuais não conhecem” diz Rosângela Alfama ao LusoJornal. Outro pilar é a importância da emigração caboverdiana na construção e na afirmação da identidade caboverdiana fora do país. “Onde um Caboverdiano está, leva essa forma de ser do povo caboverdiano, a nossa Morabeza”.

Mas o Museu quer também concentrar legados. “O perfil do emigrante caboverdiano mudou muito. Antes saíam quase exclusivamente à busca de melhores condições de vida, hoje temos também a fuga de cérebros, aqueles que têm vontade de sair para dar a sua contribuição também noutros países e para aumentar os seus conhecimentos. Temos pessoas que se destacam em diferentes áreas, na política, na religião, na cultura, e nós queremos trazer para o Museu todos esses legados”.

O Museu quer ainda abordar a diversidade da Comunidade em todos os continentes. “Um jovem de hoje, da quarta geração, que nunca esteve em Cabo Verde, mas fala de Cabo Verde, sente Cabo Verde, come uma Cachupa, dança um Funaná, como se fosse a sua avó… isto são fenómenos interessantíssimos que nós queremos abordar no nosso Museu” afirma Rosângela Alfama.

O projeto parece estar a interessar o mundo universitário. “Há estudiosos, há investigadores, há professores, que já fizeram ou ainda estão a fazer investigação nesta área, sobre a nossa diáspora e com certeza vão dar subsídios de muito valor para enriquecer o nosso espólio”.

Logo depois da apresentação, o retorno da emigração Caboverdiana foi positivo. “Houve muitas reações. Ficámos bem contentes” diz a Técnica do IPC. “Sabemos que estamos no bom caminho”.

Para levar a cabo este projeto, o Museu quer apoiar-se também na “emigração organizada” sobretudo nos países com maior densidade de emigrantes, como é, por exemplo, a França. O projeto está a pensar igualmente criar polos museológicos nos países de acolhimento.

“Nós queremos ter o máximo de testemunhos, de contributos, e as associações são importantes para nos ajudarem a recolher estes testemunhos nos países de acolhimento” explica Rosângela Alfama. “Há muitos anos que se ouve dizer – e não deixa de ser verdade – que há mais Caboverdianos a viver fora do que dentro do país”.

O Museu da Emigração quer ser dinâmico e moderno. Vai ter um espaço de exposições, claro, com uma exposição permanente e com exposições temporárias, “que possam dar realce a uma ou outra peça, a algumas comunidades ou até a pessoas que, direta ou indiretamente, dizem muito à emigração caboverdiana”. Mas também pretende ser um centro de estudos, disponibilizando os documentos para pesquisa. Quer ter também um acervo audiovisual porque “já temos alguns filmes sobre a emigração caboverdiana” desvenda Rosângela Alfama.

“Esperamos que seja um espaço do povo caboverdiano, mas também queremos que seja um espaço da própria diáspora” explica a responsável pelo projeto. “A parte digital do Museu é muito importante, tem de ser um Museu interativo para que quem está lá fora possa visitar, interagir, dar opiniões…”.

Rosângela Alfama não quer falar de orçamento. “Não sou a melhor pessoa para falar desse aspeto” disse, mas garantiu ao LusoJornal que “o Governo irá procurar parcerias financeiras e já há entidades estrangeiras interessadas em colaborar financeiramente”.

“Há uma vontade enorme do Governo para que o projeto saia do papel, até porque este assunto é consensual ao mais alto nível. Todos acham que já é tempo que Cabo Verde tenha um Museu da emigração” garante Rosângela Alfama. “Com certeza acredito que haverá as condições financeiras para a concretização do projeto”.

Por enquanto ainda não há data prevista para a abertura do Museu. Está prevista a criação de um Concelho científico, as recolhas de testemunhos já começaram e em outubro de 2021 “já termos uma estrutura montada e um projeto totalmente fechado”.

 

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