LusoJornal | Carlos Pereira

Cada vez há mais cidades que não permitem aulas de português às quartas-feiras e aos sábados

O número de professores de português a lecionar em França passou de 94 para 96, segundo a Coordenadora do ensino português em França, Adelaide Cristóvão. Os dois novos professores foram lecionar para os departamentos da Vienne e da Saône et Loire.

Interrogada pelo LusoJornal, a Coordenadora do ensino português em França disse que “as aulas de português arrancaram com uma certa normalidade, sabendo que os professores vão de máscara” e faz um balanço positivo do início deste ano letivo, mesmo se ainda há casos particulares onde as aulas de português ainda não começaram.

O fim do ano letivo anterior foi atípico e as aulas foram dadas à distância. Por isso a ficha de inscrições habitualmente distribuída no fim do ano escolar não circulou pelas escolas. “A primeira decisão que foi tomada pelo Ministério francês da educação foi que os cursos iam ser todos reconduzidos”.

Adelaide Cristóvão espera assim guardar os cerca de 14.000 alunos que aprendem português com professores do Instituto Camões: quase 9.000 nas aulas EILE, 3.500 no ensino integrado, 1.000 nas Secções internacionais e quase 1.000 no ensino associativo.

Quando o Presidente da República, Emmanuel Macron, anunciou na sexta-feira da semana passada o fim dos cursos ELCO, muitos pais de alunos portugueses reagiram pensando que iriam acabar as aulas de português. “As aulas de português já deixaram de ser ELCO [ndr: Ensino de língua e cultura de origem] em 2016, e passou a ser EILE [ndr: Ensino internacional de língua estrangeira]” explicou Adelaide Cristóvão. “Primeiro foi apenas Portugal, depois passou a Tunísia. Marrocos e Turquia ainda estão a guardar. Espanha e Itália desistiram do dispositivo”.

 

Protocolo franco-português

Portugal paga os professores, mas trata-se de uma opção do ensino francês. “Isto quer dizer que são eles que fazem as inscrições, são eles que decidem as escolas e somos nós que colocamos o professor”, resume Adelaide Cristóvão. “O nosso professor assina uma tomada de posse junto da Inspeção francesa. Todas as questões do terreno, vê diretamente com o Diretor da escola, são inspecionados como todos os professores franceses, e normalmente a Inspeção convida-me para assistir à inspeção”.

A aula de português é pois considerada uma opção no ensino francês e “a partir do momento em que o aluno se inscreve nessa opção, é obrigado a seguir as aulas e a nota de português figura no Boletim escolar do aluno. A lista das presenças está na escola, os Diretores têm o dever de controlar essas presenças e se há algum problema é da responsabilidade do Diretor da escola. É uma matéria como qualquer outra”.

Só que é uma matéria opcional que é dada… em horário extraescolar. Adelaide Cristóvão tem de gerir os horários dos professores para darem aulas ao fim da tarde, à quarta-feira e ao sábado. “Com a crise económica em França, cada vez é maior a dificuldade de nos disponibilizarem salas de aulas ao sábado e à quarta-feira, porque isso implica despesas de vigilância, de limpeza, de eletricidade, de aquecimento…”

Essa é a grande dificuldade atual da Coordenação do ensino. Até porque está excluída desta “negociação” entre as Inspeções académicas e as Mairies. “Nem posso contactar um luso-eleito, porque isso poderia ser visto como uma ingerência nesta relação entre a Academia e a autarquia”.

Adelaide Cristóvão diz que cada vez há mais departamentos a não autorizarem aulas ao sábado e agora também à quarta-feira. Onde colocar então os cursos de português? Este é um problema que não tem solução aparente, apesar dos Governos dos dois países terem assinado um Protocolo de colaboração.

 

Faltam alunos em algumas Secções internacionais

Nas Secções internacionais, os alunos têm o ensino francês completo, com todas as suas disciplinas, às quais acrescem 4 horas de língua e literatura e 2 horas de história e geografia. “Nós colocamos os professores de história e geografia e na maior parte dos casos colocamos também os professores de língua e literatura” explica a Coordenadora.

Há Secções internacionais em Paris (Balzac e Montaigne), em Saint Germain-en-Laye, Saint Cloud, Fontainebleu, Brie sur Marne, Lyon e Grenoble. Em Nice e em Strasbourg há problemas de número de alunos. “Não temos conseguido grande sucesso nestas Secções por falta de alunos” disse Adelaide Cristóvão, justificando que os liceus têm excelentes condições.

 

Experiência durante o confinamento foi rica

O confinamento no mês de março “apanhou-nos a todos de surpresa” confessou Adelaide Cristóvão. “Logo na semana seguinte, o Instituto Camões disponibilizou um curso de formação para todos os professores, sobre ensino à distância, e logo depois um novo curso com uma universidade. Da nossa parte, fizemos regularmente reuniões com os professores, em grupos pequenos, para que cada um pudesse ter a palavra e semanalmente tínhamos um documento que os professores preenchiam para nos darem conta do que tinham conseguido e do que não estavam a conseguir” explica a Coordenadora do ensino português em França ao LusoJornal. “Fomos criando redes entre professores, de forma a que se entreajudassem, criámos também um depositório de materiais para que cada um pudesse ir buscar, para que cada um mostrasse o que fez”.

 

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