Conceição Evaristo toma a palavra em Saint Denis

Incluído no ciclo «Les femmes noires prennent la parole», a Mairie de Saint Denis organiza um encontro com a escritora afro-brasileira Conceição Evaristo no dia 26 de junho, às 19h00.

O encontro será moderado pela Conselheira departamental da Seine Saint Denis, Sílvia Capanema, Vice-Presidente com o pelouro da luta contra as discriminações e a juventude e professora associada em Estudos Lusófonos na Universidade Paris 13. O encontro contará ainda com a participação de Raphaëlle Serreau, Conselheira municipal de Saint Denis, responsável do pelouro da memória e da democracia local.

Conceição Evaristo é uma escritora de renome, considerada como sendo uma das maiores vozes da literatura feminina na literatura afro-brasileira, sendo mesmo apelidada de Toni Morrisson brasileira.

É ativista política e social, nomeadamente no que toca às questões relativas à defesa das mulheres negras e da memória dos afrodescendentes. O encontro em Saint Denis será feito em torno do seu livro, «Insubmissas lágrimas de mulheres» traduzido recentemente para francês com o título «Insoumises» e publicado na Editora Anacaona.

A antologia de contos é um retrato de treze mulheres anónimas que foram vítimas de violência, mas que apesar das dificuldades resistiram. O fio condutor destes retratos é uma narradora que bate às portas para visitar estas mulheres e ouve as suas histórias. Encontra estas mulheres que aceitam contar as suas vidas de forma livre pela primeira vez.

Falam das suas angústias, sonhos, amores, sexualidades e conquistas. A autora, em entrevista a Eduardo Assis Duarte, confessa que há uma fusão dos seus personagens com ela própria: «O ponto de vista que atravessa o texto e que o texto sustenta é gerado por alguém. Alguém que é o sujeito autoral, criador/a da obra, o sujeito da criação do texto. E, nesse sentido, afirmo que quando escrevo sou eu, Conceição Evaristo, eu-sujeito a criar um texto e que não me desvencilho de minha condição de cidadã brasileira, negra, mulher, viúva, professora, oriunda das classes populares, mãe de uma menina especial, Ainá, etc., condições essas que influenciam na criação de personagens, enredos ou opções de linguagem a partir de uma história, de uma experiência pessoal que é intransferível».

Conceição Evaristo defende a importância do exemplo das lutas das feministas ao longo da História e, em entrevista à BBC Brasil, aconselha as mulheres de hoje a «não perderem a perspetiva de luta. Para olhar para o passado e pensar nas mulheres quilombolas, nas mulheres que mesmo com a liberdade cerceada conseguiram deixar a semente de luta, de liberdade, para nós. É preciso construir o presente sem perder essa linha histórica. Sem perder o exemplo das mulheres que palmilharam o caminho para que hoje estejamos aqui».

Nascida em 1946, Conceição Evaristo é a segunda de uma fratria de nove crianças criadas numa favela de Belo Horizonte em Minas Gerais. Em 1971, apesar das dificuldades consegue o concurso de professora primária, e dá aulas durante várias décadas nas escolas primárias do Rio de Janeiro. Já depois dos 50 anos retoma os estudos até obter um Doutoramento em Literatura Comparada em 2011 pela Universidade Federal Fluminense. Estreou-se em literatura em 1990 na série Cadernos Negros, uma coletânea de textos de autores afro-brasileiros. Entretanto já participou em várias antologias em diversos países e os seus livros navegam entre poesia, prosa e ensaio literário. Os seus romances estão traduzidos não somente em francês, mas também em inglês e espanhol.

Entrada livre

 

Salle des séances da Mairie de Saint Denis

2 place du Caquet

93200 Saint Denis