Lusa / Francisco Barbeira

Eduardo Lourenço: “Paixão” pela França sem sede de reconhecimento

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O ensaísta Eduardo Lourenço viveu e trabalhou em França grande parte da sua vida, tendo uma “paixão enorme” pela cultura francesa, mas nunca procurou o reconhecimento académico em terras gaulesas.

“Ele tinha uma paixão enorme pela cultura francesa. Para a geração de Eduardo Lourenço, a França representa os direitos humanos, a Revolução francesa, as luzes. A França era um farol”, disse à Lusa a professora de português na Sorbonne Maria Graciete Besse, amiga de Eduardo Lourenço.

Chegado a Bordeaux em 1949, com uma bolsa de estágio da Fundação Fullbright, foi aí que Eduardo Lourenço conheceu a mulher, Annie Salomon. Viveu em Paris, Montpellier, Grenoble e Nice, tendo passado como leitor por diversas universidades, mas sem nunca ter feito carreira académica no meio francês.

“Ele sempre foi um homem discreto. Ele nunca quis ter uma carreira universitária e o mundo académico francês também não o conhecia muito. Ele sempre viveu à margem, de forma voluntária, de uma vida académica. Ele não teve em França a relevância que deveria ter tido”, afirmou por seu lado Michel Chandeigne, cofundador das edições Chandeigne, que se dedica à publicação de obras lusófonas em França.

Eduardo Lourenço publicou através da Chandeigne “Mythologie de la Saudade – Essais sur la mélancolie portugaise”, em 1997, e tem outros títulos em língua francesa como “L’Europe introuvable” (Edições Métaillé, 1991) ou, mais recentemente, “Une vie écrite” (Gallimard, 2015).

Mesmo sem o reconhecimento académico, Eduardo Lourenço recebeu algumas das mais altas condecorações francesas como a Ordem Nacional de Mérito (1996), a Ordem das Artes e das Letras (2000) e a Legião de Honra (2002). No entanto, não se orgulhava destas distinções. “O objetivo dele não era ser conhecido. Eduardo Lourenço não era um homem orgulhoso. Era esse aspeto que mais admirava nele. Era uma pessoa que dava uma sensação de grande simplicidade e humildade, com uma erudição imensa”, indicou Maria Graciete Bresse, que, em 2011, em parceria com a delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, organizou na capital francesa o colóquio “Eduardo Lourenço et la passion de l’humain”.

Michel Chandeigne lembra a “pessoa encantadora” e “um intelectual brilhantíssimo e muito original” que encontrou pela primeira vez em 1985, e com quem se foi cruzando em Paris e Lisboa, em diversas ocasiões.

“Ele podia ter sido uma vedeta de rádio ou das revistas intelectuais em França, mas ele nunca procurou esse reconhecimento”, declarou.

Mesmo depois de se ter mudado definitivamente para Portugal, após a morte da mulher, em 2013, Eduardo Lourenço ainda seguia a atualidade francesa e tinha saudades do país que o acolheu durante muitos anos. “Ele dizia-me que tinha imensas saudades da França, de ir às livrarias, da liberdade e das ideias. Dos aspetos mais brilhantes da cultura francesa”, concluiu Maria Graciete Besse.

 

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