Emigrante lesada do BES fez “protesto em silêncio” na Embaixada de Portugal em Paris

Amélia Reis, uma emigrante lesada do ex-BES, fez “um protesto em silêncio” em frente à Embaixada de Portugal, em Paris, na sexta-feira da semana passada, para que “os políticos façam alguma coisa pelos emigrantes”.

A Portuguesa, de 59 anos, colocou-se em frente à Embaixada, das 14h00 às 16h00, com um cartaz no qual escreveu, em francês: “Fui vítima da gigantesca fraude fiscal BES/Novo Banco. Senhor Embaixador, peço-lhe que intervenha junto dos responsáveis políticos portugueses. É preciso que seja feita justiça. Não é um favor que lhe peço, é o seu dever”.

Em declarações à Lusa, a emigrante que foi ama dos sobrinhos de Ricardo Salgado, o ex-Presidente do BES, sublinhou que não gosta de “estar à espera” e decidiu manifestar-se sozinha. “É um protesto em silêncio. A Embaixada é o único lugar diplomático que nos representa aqui em França. O Embaixador deve ter poder para falar com os políticos para que façam alguma coisa pelos emigrantes. Já chega. Estamos fartos de esperar e temos de ter alguma coisa de concreto porque uma pessoa anda sempre ansiosa com isto, sempre a pensar na mesma coisa, não se dorme, não se come”, disse Amélia Reis.

Terapeuta de reflexologia e porteira, Amélia Reis organizou o primeiro protesto dos emigrantes lesados do ex-BES, em 30 de maio de 2015, em frente à sede do Novo Banco em Paris e, desde então, participou em todos os protestos dos lesados na capital francesa, várias vezes junto da Embaixada de Portugal, da sede do banco e na Praça do Trocadero, assim como em frente à Ópera de Paris. “Estou furiosa, estou revoltada. Acho que é uma grande falta de respeito para connosco. Somos emigrantes e não somos tratados da mesma maneira que os outros. Eu parar não paro. Eles pensam que uma pessoa se vai cansar e vai parar, mas eu serei uma das que irá até ao fim. Só quando morrer é que paro”, continuou.

A Portuguesa que trocou a aldeia de Vinhas, em Macedo de Cavaleiros, por Paris, em 1976, contou que começou a trabalhar com apenas nove anos e que o dinheiro que tinha no ex-BES correspondia a “40 anos de trabalho” dela e do marido.

Amélia Reis acrescentou que escreveu ao Presidente da República, em 13 de abril, lamentando a até agora falta de resposta que, a seu ver, corresponde a “uma falta de respeito”, precisando que também tinha escrito ao anterior Chefe de Estado que lhe respondera a dizer “para entrar na Justiça”.

A Emigrante considerou, ainda, que houve “um roubo político organizado” e apontou que “os políticos são responsáveis e irão ser responsáveis por problemas de saúde graves” dos emigrantes lesados do BES, a maioria dos quais tem acima de 60 anos.

“Isto foi um roubo político organizado. Agora, se foi o antigo Governo ou este, se foram os da Direita ou da Esquerda não sei. Tudo o que sei é que foi um roubo político organizado, que o Banco de Portugal é responsável e tem o poder, se não resolve é porque não quer. É um problema político, eles têm o poder de resolver este problema, se não o resolveram ainda é porque ainda não quiseram”, lançou.

Amélia Reis subscreveu, em 2002, as chamadas “Poupanças Plus”, que lhe foram apresentadas como “contas a prazo”, tendo recusado o acordo que lhe foi proposto pelo Novo Banco, em julho de 2015 e em abril deste ano. “A nova gestora telefonou-me dois dias antes de um protesto em Paris. Eu perguntei-lhe: ‘A proposta é a mesma?’ e ela disse que sim. A conversa ficou por aí. É indecente. Eu não comprei ações para agora me trocarem por obrigações. De uma maneira simples, era 30% em liquidez durante 6 a 8 anos e 60% em obrigações que teriam talvez maturidade em 2049, 2050 e 2051”, explicou, considerando que era “um segundo roubo”.

O Novo Banco propôs, em 2015, uma solução comercial aos emigrantes com os produtos Poupança Plus, Euro Aforro e Top Renda, que teve a aceitação de cerca de 6.000 pessoas (80% do total) que detinham em conjunto 500 milhões de euros.

Houve clientes que não aceitaram a proposta por considerarem que não se adequava ao seu perfil e não era justa, visto que tinha obrigações com vencimento daqui a 30 anos e sem cupão anual, e o Novo Banco não fez qualquer proposta a outros milhares de clientes, argumentando que não era possível, devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos.

LusoJornal