LusoJornal / Carlos Pereira

Filomena Molder diz que exposição de Rui Chafes e Giacometti é combate entre ambos

A filósofa portuguesa Maria Filomena Molder, presente em Paris, disse que a exposição “Gris, Vide, Cris”, que junta obras de Rui Chafes e Alberto Giacometti, na capital francesa, representa um combate entre os dois artistas.

“Gris, Vide, Cris” “não é coletiva, não é um dueto, nem uma exposição temática”, é sim um “combate” entre os dois artistas, disse Maria Filomena Molder, na terça-feira da semana passada, numa das sessões do programa paralelo que acompanha esta mostra da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, onde fica até meados de dezembro.

“O combate está em o Rui Chafes aproximar-se de alguém que ele admira muito, com o qual tem profundas afinidades, mas que não pertence à mesma família. Giacometti achava que a escultura era um meio e, no caso do Rui, essa distinção não aparece. As suas esculturas são enxames de sensações”, disse a filósofa, em declarações à Lusa, no final da conferência “Un trou dans la neige”, promovida à volta da exposição “Gris, Vide, Cris”.

Fazendo a oposição entre a filosofia e a arte, Maria Filomena Molder considerou que “o filósofo anda à volta do abismo e que o artista se atira do abismo”, encontrando esta noção de abismo na forma como Rui Chafes construiu as suas obras em ferro à volta das delicadas peças de Giacometti. “Rui Chafes descobriu uma nova forma de ver Giacometti, elas devem ser vistas de frente e não ao redor. É uma experiência de abismo”, afirmou.

Mas a filósofa recusa a ideia de diálogo na exposição dos dois artigos. “Só se pode dialogar se os dois estivessem vivos” e se Giacometti tivesse discutido com Rui “que peças gostava de mostrar”. “É uma exposição sobre o sentimento de veneração de Rui Chafes pela obra de Giacometti”, indicou a filósofa ressaltando que o facto de o artista português fazer uma exposição “com um dos maiores artistas do século XX” marca uma nova fase para Chafes.

“Quem não venera e não sente que há uma coisa maior quando se cruza com uma montanha, a forma como Rui vê Giacometti, pode ser destruído pela grandiosidade. Quem sente a veneração pode ser elevado e estabelece uma certa igualdade com o seu objeto de veneração”, argumentou Molder.

A filósofa deu como exemplo as peças “Lumière”, onde um túnel de ferro tortuoso leva a uma escultura de quatro centímetros de Giacometti, e “La nuit”, onde o artista português prolongou uma das versões de “O Nariz” de Giacometti, através de uma máscara de ferro pontiaguda.