Football Leaks: Edwy Plenel (Mediapart) lembra alerta feito em 2018 contra a Superliga

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O Diretor do site francês Mediapart, Edwy Plenel, lembrou hoje no julgamento do processo ‘Football Leaks’ que a plataforma eletrónica criada por Rui Pinto alertou já em 2018 para a realidade do projeto de criação da Superliga.

“A atualidade recente mostra a utilidade democrática das revelações do ‘Football Leaks’. O projeto da Superliga, organizada pelos 12 clubes mais ricos, tinha sido revelado em 2018 graças aos esforços de Rui Pinto”, afirmou o jornalista francês, enaltecendo a importância dessa situação: “A vontade era ficarem ainda mais ricos, criando um cartel que incluía os maiores clubes. O papel do ‘Football Leaks’ foi dar o alerta em 2018 para a realidade desse projeto”.

Na audição efetuada por videoconferência na 37ª sessão do julgamento, que decorre no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, o responsável pelo site de informação Mediapart – que integra o consórcio de jornalismo de investigação EIC – considerou que “Rui Pinto é hoje muito popular entre os adeptos e entre quem ama o desporto” pelas informações divulgadas através do ‘Football Leaks’ e posteriormente trabalhadas pela comunicação social.

“Sem ele não se tinha conseguido revelar. Aqui temos um exemplo da motivação de Rui Pinto, alguém que ama o futebol e descobre que o futebol é manipulado com vista ao lucro e à especulação financeira, em detrimento do desporto e dos adeptos”, defendeu Edwy Plenel, reiterando: “A Superliga é o símbolo de um futebol gangrenado pelo dinheiro”.

No depoimento, o Diretor do Mediapart destacou que os documentos “permitiram a publicação de mais de uma centena de artigos de interesse público superior” a propósito de “acontecimentos importantíssimos a nível europeu”, sem esconder o “grande impacto” do site em diversos países, nomeadamente “Espanha, Reino Unido, Portugal, Alemanha, Itália, Países Baixos, Suíça, Croácia e até Turquia”.

Enumerando exemplos de consequências reais em vários países ao nível da recuperação de dinheiro de impostos em falta para com as autoridades tributárias dessas nações, Edwy Plenel salientou também a colaboração que o principal arguido deste processo estabeleceu com a justiça de França.

“A Procuradoria estava tão convencida da importância do ‘Football Leaks’ que lançou um processo de colaboração com Rui Pinto. Em 2018, Rui Pinto deu à justiça francesa um espólio de 12 milhões de ficheiros. O processo de colaboração foi interrompido com a sua detenção na Hungria, mas a justiça francesa iniciou em 2019 um processo de colaboração europeu, através do Eurojust”, observou.

Por outro lado, a testemunha arrolada pela defesa de Rui Pinto fez questão de enfatizar um “humanismo” nas divulgações de Rui Pinto através do ‘Football Leaks’, com base na denúncia de uma política de discriminação étnica e racial pelo PSG na contratação de jogadores – uma situação que, segundo Edwy Plenel, deu origem a um inquérito que ainda prossegue na justiça francesa – e na denúncia de exploração de futebolistas menores de idade por grandes clubes.

“Encontrou ficheiros sobre a origem étnica dos jogadores, a fim de praticar políticas de discriminação com base na etnia, origem ou nacionalidade. O Procurador de Paris abriu um inquérito por discriminação, pelo registo e conservação de dados pessoais com base na etnia, origem ou nacionalidade, e a recolha de elementos de natureza pessoal através de meios fraudulentos ou ilícitos”, indicou, rematando: “É como se houvesse esclavagismo em França”.

Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

 

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LusoJornal